ordenado mínimo

Imagine o leitor que, para viver, a sua família necessita todos os meses de 2,5 vezes os recursos que tem disponíveis (no frigorífico, na dispensa, no banco etc.). Não é preciso ser especialista de qualquer coisa, ou pensar muito, para saber qual vai ser o fim. Portugal é assim, para a vida que temos, necessitamos todos os anos de 2,5 vezes a área do nosso país: 2,5 países para termos os recursos que consumimos. Esta é a nossa miserável sustentabilidade. A legislatura arranca com o tema “acordo social” e “aproximar os ordenados dos trabalhadores do lucro das empresas”, segundo as palavras de António Costa. Na verdade, o ordenado mínimo de Portugal, e os outros, o meu e o seu, são miseráveis; só comparáveis à nossa produtividade. Acontece que ninguém fala nesta última, que não se altera com “conversa política”. Como qualquer um de nós percebe, as contas desta equação, ordenado-produtividade, não vão dar bom resultado. Nessa altura, cá estaremos para, mais uma vez, nos baterem à porta e nos pedirem contas.Para ter a certeza do que aqui escrevo consultei  alguns amigos empresários, de todos o quadrantes políticos, designadamente do PCP. A resposta foi unânime e infelizmente tenho razão. Vivemos então num tempo de “faz de conta”, de mentira, do tipo “nunca pareceu estar tão bem e está tão mal”. Para  começar a inverter a coisa, e podermos ter melhores ordenados sustentadamente, é bom que cada um comece a pensar pela sua cabeça e ver a um pouco mais além do que parece.

pobreza miserável

Vieram a público os últimos dados da pobreza em Portugal, 2,2 milhões de portugueses são excluídos porque são pobres. Este número é assustador e muito incomodativo, tira-me o sono. Um belo e orgulhoso resultado de 45 anos de socialismo em vários tons. Escrevo 45 anos de socialismo porque é tempo de deixar em paz os 48 anos de ditadura fascista e começar a pensar onde estamos e como aqui chegámos. Obviamente que na análise de tão monstruosa realidade há todo um conjunto de dados e interpretações que deixa António Costa e a enorme família socialista tranquilos e satisfeitos com o seu trabalho. Apesar desta miséria também se soube esta semana que a subscrição de seguros de saúde disparou em Portugal sobretudo nas classes mais baixas. Daqui se conclui que os pobres deste país duvidam muito, isto é, sentem na pele, que a saúde que o Estado lhes “oferece” não satisfaz. E aqui estamos alegres, contentes e distraídos com as palermices da Joacine que em poucas semanas tirou o palco ao PAN. Caros portugueses, temos a certeza que o mesmo caminho nos vai conduzir aos mesmos miseráveis lugares. Naturalmente que os autoproclamados arautos da democracia, aqueles que nos dizem o que é “bom e mau”, gritam cada vez mais alto o “enorme caminho percorrido desde 74”. Era melhor que assim não fosse, este tipo de gritaria, argumentos, só dão razão a quem pensa diferente. À cabeça está sempre a “liberdade”. Liberdade? Será que estes pobres têm a liberdade para ligar o aquecimento e não terem frio no inverno? Abaixo a aposta estratégica na pobreza, já! Será que é possível experimentar novos caminhos para ter melhores resultados? Qual é o risco? Quarenta e cinco anos depois ainda acreditamos que a culpa é do Salazar? Ainda dá para acreditar que quem nos conduziu até aqui nos vai tirar desta situação? É credível esta miséria ser resultado de alguns “papões” que espreitam a oportunidade de nos fazer mal e não das políticas seguidas?

O cenário é negro mas sabemos que mesmo por detrás de espessas nuvens sempre o sol brilha, tenhamos esperança, podemos mudar para melhor.

web summit

Paddy Cosgrave afirmou hoje que este pequeno país é um “país startup”. Fiquei entusiasmado; enquanto isto a nossa miserável pobreza, leia-se produtividade, necessita de 2,5 vezes do território do país para gerar a nossa pobre riqueza, é mau demais.

Também hoje a cidade de Nova Deli está fechada porque a qualidade do ar é venenosa, irrespirável. Estou certo que em Lisboa vai surgir uma app que resolverá o problema. E um pingo de vergonha, não lhes ficaria bem?

no Público dois dias depois:

https://www.dropbox.com/home?preview=Emerg%C3%AAncia+Clim%C3%A1tica+-+Publico+Lisboa-20191106-p%C3%A1ginas-1%2C28-29+(1).pdf

novo aeroporto

porque não acredito em estudos de impacte ambiental não me passou pela cabeça ler o Estudo de Impacte Ambiental do aeroporto do Montijo. Por um passado recente com responsabilidades no Tejo sei bem da importância ecológica do estuário deste rio. Olha-se para a seguinte fotografia e parece-me absurdo fazer ali um aeroporto:


entre centenas de perguntas com difícil resposta faço uma: quanto custa preparar geotecnicamente estes solos para suportarem uma pista?

entretanto temos o aeroporto de Lisboa:

esta fotografia foi tirada da janela da cozinha de uma pessoa amiga que vive no bairro de Alvalade em Lisboa. Em largos períodos do dia a periodicidade da passagem dos aviões é de três minutos. Há dias em que ela tem de sair de casa porque não suporta mais o incomodo. Dificilmente poderia haver uma pior localização para o principal aeroporto do país. Não nos esqueçamos localização do aeroporto de Faro…

em matéria de aeroportos é esta a triste realidade de um país que nos dizem exemplar!

catástrofe planetária

Catástrofe planetária e Greta

O risco de uma catástrofe planetária é cada vez maior; isto é uma enorme verdade. A coisa aparece com o nome de “alterações climáticas”. Quase tão grave como esta realidade é o que se tem feito e a forma como surge na casa de cada um: um folclore inconsequente, uma oportunidade política para sacar mais uns votos, ou até uma moda, como todas as outras que, tal como aparecem, da mesma forma se vão… Reparem que na atual campanha eleitoral todos os partidos, ou quase, têm cartazes verdes a aproveitar a onda… Haja paciência, mas não há. O ridículo chega ao ponto de ser uma garota, Greta, de um país rico a liderar a festa.

Outra verdade é o tema ser mais um excelente campo de negócio de milhões para os mesmos de sempre: os mesmos que aproveitaram outras modas e que viraram agora especialistas em clima. Um dos produtos deste negócio são os planos de ação contra as alterações climáticas; ridículos é pouco para os qualificar. Há-os para todos os gostos e não há terrinha que não tenha um pano destes. Data de 2006 um primeiro Programa Nacional para as Alterações Climáticas. São os nossos impostos que os pagam aos tais consultores e especialistas. Entretanto, por causa de mais uma cimeira, esta em Nova York, as últimas semanas têm sido muito animadas.

Há paciência para manifestações, greves e recados de garotas confortáveis na vida que fazem mais mal do que bem à causa? As ruas das cidades ficam cheias de gente a gritar com cartazes, a cimeira passa e, como todas as outras, “aos costumes disse nada”, ou seja, fica tudo na mesma – quem tem piscina tem, viaja de avião as vezes que lhe apetece a custo escandaloso e quem tem fome, fica com fome. Nada muda. Greves palermas para nada, a não ser para tranquilizar consciências. Será que o Ministro do Ambiente também faz greve?

Quantas cimeiras destas já houve? Quais foram os resultados? Depois de cada cimeira a coisa piorou e continua a piorar. Por cá, temos um modo de vida totalmente insustentável: consumimos limões do Chile e vamos ali a Londres por 30 euros. Como é compatível a sustentabilidade do planeta com o turismo que todos conhecemos, cada vez com mais intensidade e que se deseja mais e mais? Tenham vergonha, deixem-se de cimeiras e fiquem em “casa” a fazer o que devem.


as mentiras da sustentabilidade

Talvez por ter começado há muito tempo, também há muito tempo que esgotei a paciência para as mentiras da sustentabilidade. Tenham paciência mas não acredito que um grupo de criancinhas a plantar árvores seja coisa significativa pelo ambiente.  Tranquiliza a consciência do coletivo depredador. Há uns anos a ONU definiu um conjunto de objetivos para a sustentabilidade até 2030 e seguintes (ODS). Irrepreensível no papel, só no papel. Mais do que objetivos para o desenvolvimento sustentável são utopias para a sustentabilidade. A semana passada a mesma ONU divulgou uma espécie de resultados onde Portugal surge em lugar de destaque como bom aluno. Que enorme mentira, em tudo de mais elementar: intensidade energética, gestão da água, produção de resíduos etc. estamos cada vez pior, com toda a verdade. É muito preocupante que a ONU divulgue este tipo de relatórios, enganadores, que alimentam a máquina e não convidam a arrepiar caminho. Não passa de conversa e política, política que entre nós até serve para uns palermas impreparados formarem um partido com sucesso e, não sei onde, na Europa do norte, uma gaita de 17 anos se tornar leader de opinião. A coisa é de tal forma grave que ainda a semana passada o norte do país ardeu violentamente enquanto que a poucos quilómetros, em Valência, devido a enxurradas morreram pessoas e os prejuízos materiais, designadamente na agricultura, foram incalculáveis. A coisa é mesmo de emergência muito séria mas até esta palavra, emergência, perdeu sentido pela leviandade com que é usada e abusada.

Há várias formas de terrorismo, a mentira em matéria de clima e ambiente é uma, bem grave.      

sustentabilidade do Alentejo

Uma improvável jornada na rentrée promovida pela Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central (CIMAC), sobre a estratégia de desenvolvimento do Alentejo para 2027, confirma o estranho que estes tempos são. Antes da ordem do dia uma palavra para os técnicos da CIMAC que, apesar do contexto difícil e apertado mostram entusiasmo.

A coisa começou bem quando alguém apelida esta nossa terra de “território virtuoso”. O resto tudo demasiado parecido como se fosse há 20 ou 30 anos. Mais ou menos os mesmos temas de sempre, nada de novo. Até os indicadores mais verdadeiros, como a taxa de resíduos per capita, continuam vergonhosos, mesmo que o Ministro Matos Fernandes e, sobretudo, o Dr. Costa nos contem o contrário. Pelo rácio produtividade/resíduo, podemos concluir que cada vez trabalhamos pior e que por isso mesmo somos mais pobres. Custa mas é verdade. O que se aprendeu entretanto? Novo é o sucesso (?) do “abençoado” turismo do nosso contentamento que mais uma vez muito me surpreendeu: então não é que apesar de tanto sucesso o sector exige dinheiro público para se promover? Coisa estranha esta de um vendedor de castanhas assadas na Praça do Giraldo, com sucesso, exigir à Câmara, isto é, a todos nós, que pague a publicidade do seu negócio…

De resto a grande novidade são as alterações climáticas. Excelente chapéu para todos os enganos. Apesar das previsões apontarem para uma redução significativa da disponibilidade de água, a coisa resolve-se com mais regadio. Ainda por cima mais regadio em culturas tradicionalmente não regadas como a vinha e o olival. Coisa estranha, parece uma história para crianças do infantário. “Pinta-se” a coisa de verde e já está… Os tempos são difíceis e por isso mesmo espera-se qualquer coisa de melhor. Há coragem para isso? Os poderes políticos regionais, sobretudo os dos partidos que ocupam os ministérios de Lisboa, vivem pacificamente com as enormes contradições entre o discurso e a realidade?

E quando a verdade nos bater à porta e entrar?

pobreza

esta é uma micro estória de pobreza em que os portugueses aposta e, em particular, os alentejanos acreditam:

” ALENTEJO O Bloco de Esquerda está contra a prospeção de ouro e outros minerais nos concelhos de Évora, Montemor-o-Novo e Vendas Novas.”

by bike

Como, quase, todos sabemos estes tempos estão patetas e querem fazer de nós parvos. Na cidade onde vivo, do dia para a noite, aconteceu o 1º Encontro Nacional de Rotas e Infraestruturas Cicláveis. Ao que lá disseram a propósito do dia da bike (a bicicleta portuguesa) que a UNESCO instituiu (dia 3 de junho). Parece que andamos a fazer grandes descobertas e que usar a bicicleta é uma grande inovação – mobilidade sustentável, todos muito amigos do ambiente etc. Haja paciência. Num repente o transporte dos pobres virou uma inovação só possível aos mais abastados. Fiquei a saber que há uma empresa pública, Infraestruturas de Portugal Património (IP Património) dedicada à grande causa. Neste caso justificada pelas linhas de comboio e estações abandonadas que há uns anos se chamam Vias Verdes. Até quando é que vamos suportar que o nosso dinheiro seja assim estragado? Apesar do Encontro ser Nacional o que valeu a pena foram os exemplos que vieram de fora, designadamente de Espanha. O resto, por cá, é o faz de conta habitual, uma “família” de gente com o interesse nas bikes que governa a vida com a coisa. Como sempre. O presidente da Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta informou, com satisfação, que o Ministro das Infraestruturas criou um grupo de trabalho para por ordem na coisa: obviamente que ficamos todos a saber que nada se vai resolver.  Dois singelos exemplos, aqui do lado, mostram o ponto onde estamos. Numa serra despovoada da Andaluzia (como o nosso “desgraçado” interior) há uma destas vias verdes (Via Verde de la Sierra, está tudo na net) com cerca de 36 km que é gerida profissionalmente. Esta infraestrutura, via verde, criou 35 postos de trabalho diretos. Em Girona, na Espanha rica e povoada, foi criado o Consórcio das Vías Verdes de Girona, uma entidade pública de carácter associativo e de natureza institucional e local. O orçamento anual é cerca de um milhão de Euros e as receitas mais de três milhões. E por aqui me fico.

Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan