antenas

Como era corrente na época no Alentejo, fui pela primeira vez ao estrangeiro a Badajoz, teria uns cinco anos. Para além da aventura para lá chegar – o automóvel às vezes parava sem se saber bem porquê –, a passagem da fronteira foi um momento alto. Aqueles guardas-civis de chapéu estranho e com cara de poucos amigos eram perfeitos para pôr na coisa a emoção necessária para o momento. Comparativamente, os nossos GNR eram bastante mais simpáticos, embora igualmente exigentes, sobretudo no regresso. Aquele era um mundo muito diferente do que hoje conhecemos, com os escudos bem contados, mas com mais valor que a moeda espanhola, pelo que tínhamos acesso a um mercado e a uma oferta muito maior que a das nossas terras. Nessa altura, ir a Lisboa era um dia de viagem e não teria lá estado mais que duas ou três vezes, designadamente por motivos médicos. Era muito mais interessante ir a Badajoz.

Uma vez do lado de lá, a primeira imagem que me marcou, até hoje, foram os telhados repletos de antenas. Era impressionante e impossível de descrever a floresta de varas e cabos com antenas no topo. Nessa época, a TVE entrava pelas nossas casas sem cerimónia, traduzindo-se numa significativa mais valia informativa e de entretenimento. Mais tarde, aos poucos, os nossos telhados foram assumindo aquele efeito das antenas. Apesar de eventual sinónimo de modernidade, felizmente por cá o fenómeno nunca assumiu as proporções de Badajoz. Não sei como estão agora os telhados daquela cidade raiana, mas a imagem da floresta de ferro tanto me impressionou que se manteve na minha memória até hoje.

Vem tudo isto a propósito da oportuna missiva que um leitor nos dirigiu e que o O Mirante publicou. Na verdade, ainda restam muitas antenas no telhados das nossas cidades, vilas e aldeias. Poucas serão as que estão ativas. Na prática, temos lixo inestético no céu das nossas terras. Mas conforme escreve, e bem, o nosso leitor, este lixo, como todo o lixo, tem valor. Nesta época em que tanto se fala de economia circular, a limpeza do céu pode trazer uma mais valia económica e ambiental para os locais. Alguns dos componentes (alumínio, cabos etc.) terão o valor suficiente que justifique os custos da retirada, muito para além do efeito positivo estético. Assim, talvez faça muito sentido que as autarquias/freguesias avaliem seriamente esta possível oportunidade. A confirmar-se a hipótese de receita, esta poderá reverter para projetos sociais locais ou intervenções de grande relevância local. Todos ficarão a ganhar e a paisagem das nossas terras melhorará bastante.

 

Portugal é o país que fazemos e às vezes são as pequenas coisas que contam.

 

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan