fogo

O que se passou no Caramulo só pode ser comparado a uma guerra. Tragicamente, a analogia passou também pela perda de vidas humanas.

Provavelmente já quase tudo terá sido dito e escrito. Nesta matéria, o país não é diferente. A floresta é desordenada, não se mantém limpa e deixa-se ao abandono. Isto é, não há prevenção. As boas práticas são conhecidas mas, ano após ano, salvo raras exceções, pouco ou nada é feito e o resultado está à vista de todos. Não pode ser diferente.

 

O que se passou no Caramulo é demasiado grave para ficarmos pelo habitual apelo para que se prendam os criminosos incendiários e que se trate preventivamente da floresta.

Como alguns responsáveis admitiram, houve erros no Caramulo que custaram vidas humanas. Vidas de jovens com o coração do tamanho do mundo. O mais grave é que, cerca de oito dias depois da primeira tragédia, outros dois jovens bombeiros morreram carbonizados pelo mesmo tipo de erro. Isto é, estes jovens bombeiros nunca podiam estar na frente de combate como estiveram. Os bois têm de ser chamados pelos nomes e este tipo de ocorrências não pode voltar a acontecer. É demasiado grave e trágico que jovens de 20 anos morram pela mão da sua generosidade e bondade, vítimas de um contexto de fogo que não conhecem e para o qual não estão preparados. Esta é a verdade.

Jamais estes jovens bombeiros poderão ir para a frente de combate. Num contexto só comparável a uma situação de guerra, a exigência técnica e o risco são demasiado elevados para bombeiros voluntários amadores.

Neste combate, nesta frente, só podem estar profissionais altamente qualificados, preparados e equipados. O país deve enaltecer e valorizar o bombeiro voluntário mas é tempo de ir à causa do problema, ultrapassar todo o corporativismo doentio existente no setor e assumir a profissionalização dos bombeiros.

Tem de haver coragem, doa a quem doer, para enfrentar esta verdade. Uma guerra como a do Caramulo tem que ser enfrentada por gente altamente qualificada e preparada para tal, até porque, nos vai sair, em todos os aspetos, muito mais barato.

Obviamente que o país não pode perder o valor social e moral do voluntariado, há um enorme espaço para o bombeiro voluntário. Desde logo, por exemplo, na prevenção/manutenção da floresta e também na vigilância. Também em situação de fogo muitas e importantes tarefas e missões são adequadas ao bombeiro voluntário, designadamente todo o apoio de retaguarda.

O conjunto de reformas que o país enfrenta deve incluir esta, a criação de um corpo de bombeiros profissionais que cubra o país. Nada pode justificar que a profissionalização do setor seja, mais uma vez, esquecida e contornada. Só assim se evitarão dramas como o do Caramulo. O valor económico da floresta fará o resto.

A bem de todos, designadamente dos bombeiros voluntários, exige-se que assim seja.

[in: O Mirante, 12 de setembro, 2013]

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan