corrida estúpida

escrevi dezenas de vezes que a corrida é como a vida. Como poderia ser diferente?

a minha vida, por estes tempos, tem sido estúpida.

a estupidez distingue-se da parvoíce porque, além de causamos dano a outros, também nos prejudicamos a nós. Peço por isso a devida atenção à minha família/amigos, alunos, colegas, leitores e conhecidos. Peço também, desde já, perdão por todos os males que vos possa causar.

hoje, em Évora, corri a meia maratona monumental, da forma mais estúpida que alguma vez imaginei. Além da  “esperança”, o único resultado positivo que consigo identificar é perceber que não tenho vergonha suficiente. Hoje em Évora soube que não tenho a vergonha que devia ter. Um rol de coisas estúpidas ultrapassou em muito a vergonha e aos 5 km parei para tentar recuperar. A cabeça, o mais importante dos músculos também para correr, não conseguiu mandar e por ali me fiquei. A lista “de coisas estúpidas” que fiz está bem clara na minha cabeça e sei como fui estúpido. Todavia, até os estúpidos têm direito à vida. Afortunadamente, o canal no YouTube Kurzgesagt mostra que quando as coisas “estúpidas” se juntam faz-se magia. Pequenas coisas transformam-se em coisas importantes. “Átomos formam moléculas, moléculas formam proteínas, proteínas formam células, células formam órgãos… É o fenómeno que o canal procura explicar tendo por base as formigas, o seu instinto de cooperação e o poder que ganham quando se juntam.” (https://www.youtube.com/watch?v=16W7c0mb-rE )

a natureza é pois perfeita, como alguns sabemos, outros desconfiam e os restantes ignoram, e dá esperança a todos, até aos estúpidos. Esta será a “batalha solitária do homem consigo próprio”? Tenho esperança nesta batalha que estou a travar e que hoje me derrotou. Na verdade segundo Tolentino Mendonça, “esperar não significa projetar-se num futuro hipotético, mas saber colher o invisível no visível, o inaudível no audível, e por aí fora. Descobrir uma dimensão outra dentro e além desta realidade concreta que nos é dada como presente. Todos os nossos sentidos são implicados para acolher, com espanto e sobressalto, a promessa que vem, não apenas num tempo indefinido futuro, mas já hoje, a cada momento. A esperança mantém-nos vivos. Não nos permite viver macerados pelo desânimo, absorvidos pela desilusão, derrubados pelas forças da morte. Compreender que a esperança floresce no instante é experimentar o perfume do eterno.” In: ‘A Mística do Instante’

hoje fiquei adiado, ando adiado, choro lágrimas mas com esperança, com um sorriso.

ri palhaço. chora homem. sofre cão. (Reinaldo Cupeto em tempos muito passados), isto é, como disse a Maria ontem, não há culpados, há pessoas que sofrem.

ps – tenho que agradecer aos amigos que vieram de Cascais para correrem comigo.

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan