bosque urbano

(cidade da Malagueira, Siza Vieira, Évora)

A Av. da Malagueira vem do antigo Casão (hoje Pingo Doce), desce até passar a ribeira da Torregela e sobe deixando a praça José Afonso à esquerda (junta de Freguesia) e o jardim dos Socalcos à direita. A rampa da rua do Arrife leva-nos às piscinas. Um final de tarde destes sentei-me num poial em mármore a fazer o que mais gosto, nada – a observar. Em frente, um imenso relvado bem tratado e aparado atravessado por uma ribeira maltratada, desprezada e ignorada. Este tempo, pré-eleitoral para o governo local, é o certo para sabermos quanto custa por ano em Euros este relvado? Aposto que ninguém sabe. Ou, se alguém sabe não tem a coragem de o dizer. Sei que é muito, mas muito dinheiro. No que respeita ao custo ambiental a coisa é de tal forma absurda e estúpida que fico por aqui. É por estas e outras que a 13 maio último, Portugal esgotou os seus recursos para 2021 e ficamos 7 meses a usar o que não nos pertence. Alguém está a sofrer, sem água e alimentos, por esta vergonhosa desfaçatez lusa. Neste dia, a notícia foi a Grécia e a Turquia, com temperaturas brutais, a arderem… Isto é, o que todos os candidatos à governação de Évora papagueiam como “alterações climáticas”. Inevitável, vi naquele relvado um magnífico bosque urbano, sem custos de manutenção e atravessado por uma ribeira viva e vivida. Um bosque com infinitas mais valias, destaco uma muito maior biodiversidade, a amenização da temperatura ambiente, e, em tempo de chuva, a maior infiltração e retensão de água e sedimentos. Há ainda, várias cerejas em cima do bolo; isto não necessita de nenhum estudo, se o fizerem, estão mais uma vez a estragar o dinheiro dos nossos impostos, e não tem custos; provavelmente o custo de um mês de relva dá para plantar o bosque. É irónico, mas a poucos metros há dois exemplos entram pelos os olhos de quem quer e pode ver; a jusante do lago há um pequeno bosque e as pimenteiras junto às escolas e Pingo Doce. Este último, provavelmente, o espaço verde mais sublime e verdadeiro de Évora. Por favor, por nós todos, não se perca a oportunidade da próxima época de plantação. Cada semana que passa é muito tempo e muito se perde, o bosque vai levar alguns anos a ter o seu efeito.

Entretanto um casal de velhos passeia na via alcatroada dedicada ao trânsito automóvel e desvia-me do tema. Um perigo. Na verdade, o largo passeio que esta avenida tem, num dos lados, não serve para um velho passear, tal o número de obstáculos, encabeçados pelos automóveis. Alguns destes automóveis têm donos mais espertos que utilizam o aqueduto como uma espécie de garagem.  O tal bosque possibilitaria, isto é, convidaria, sem dificuldade, a um passeio do outro lado da avenida. Tudo isto sem estudos.

Entretanto, chega a hora de centenas, milhares?, de morcegos saírem do aqueduto e irem à sua vida. Vejo-os em direção à quinta da Malagueira, será que é ali que encontram os insetos para o seu sustento? Pelo seu grande número, isto terá algum significado ecológico? Alguém que saiba da matéria já estudou o assunto? E o tal bosque, vai dificultar a vida a estas criaturas? Aqui sim, matéria para um estudo que já devia estar feito.

Caiu a noite, mudei o meu olhar, a avenida ficou com menos tráfego e a Malagueira ficou ainda melhor.

Estremoz

Há quase três décadas, numa viagem de Portalegre a Évora, desde Veiros até Évora Monte, a excelência do concelho de Estremoz bateu-me forte. Durante anos em muitos textos e apresentações dei o exemplo de Estremoz; como pode uma equação com tantas excelentes parcelas positivas dar um resultado negativo?

A minha mãe é natural de Estremoz, eu nasci no Cano e todas as férias de criança eram passadas por estas terras onde ainda tenho família empreendedora, trabalhadora, com sucesso de que muito me orgulho. Em Estremoz fiz o meu mestrado e doutoramento, por esses tempos cheguei a semiviver nesta abençoada terra. Trabalhei muito por estes campos, nas pedreiras, na água e etc. Conheço bem Estremoz.

O concelho de Estremoz tem tudo para ser muito, mas muito melhor do que é. É muito difícil, quase impossível, que Estremoz não seja uma cidade excelente, rica, dinâmica e prospera. Uma cidade limpa, cuidada, o Rossio calcetado, uns bancos para velhos verem o tempo passar é muito pouco. É miserável quando comparado com o que pode, devia e tem de ser.

Estremoz tem uma Localização fabulosa, nos eixos E-W e N-S, a 20 minutos de Badajoz (200 mil pessoas) a 2 horas de Lisboa, entre Évora -Portalegre – Elvas, … Esta terra dispõe de Recursos como poucas: água; solo; mármore; vinha; montado… Estremoz ostenta Patrimónios ímpares, naturais; culturais; construídos – quantas cidades têm um lago com a beleza do Gadanha, uma praça como o Rossio e um castelo com uma pousada e a Rainha Santa? Quantas gentes têm bonecos como os de Estremoz? Aqui há Infraestruturas (acessibilidades; parque industrial e feiras; adegas; pousada e outros e alojamentos de qualidade; polo da universidade…) como em poucas terras do interior. Estremoz tem uma centralidade única. Tudo isto, e muito mais, somado tem de ser um resultado excelente. O que falta então para Estremoz ser diferente para muito melhor? Caminhos iguais vão dar ao mesmo lugar. Temos de mudar. Quarenta e cinco anos de socialismo trouxe Estremoz onde está. Estremoz e a sua gente merece muito melhor. Todos merecemos Estremoz muito melhor. Qual é o risco de experimentar governança local? Mais do mesmo, ou experimentar outros caminhos, outras paisagens, outra forma de governo local.  As pessoas em primeiro lugar com uma economia que crie riqueza. Por favor experimentem, o risco são 4 anos. O que são 4 anos quando comparados com quase 5 décadas?

choro olímpico

Sou do tempo em que desporto na TV pouco mais era que os Jogos Olímpicos. Lembro-me do Carlos Lopes, Rosa Mota e muitos outros nos darem muitas alegrias. Sei que o António Leitão comia uma feijoada e a seguir ganhava medalhas. Entretanto os tempos mudaram, e de que maneira. Confesso-me um pouco lá atrás. Fico perplexo quando vejo os nossos olímpicos chorarem como meninos porque perdem. Suspeito que, em grande parte, a derrota fica explicada, não estão preparados para ganhar.  Sei que o Eusébio em 66 chorou em Wembley, não é comprável.  Não me parece nada bem que as televisões insistam neste tipo de imagens: choro e conversa menos própria, “o bronze não é para mim, eu sou ouro”. Não há aqui qualquer espírito Olímpico. Dizer “eu sou ouro” é, no mínimo, impróprio para o colega que ganhou o ouro. Não quero que as minhas crianças vejam isto. Não é bom exemplo para nada, sobretudo quando vem de atletas olímpicos supostamente ditos de alta competição.  Não há ninguém nesta equipa olímpica que eleve a coisa para padrões correctos e justos? Antes de treinarem as diferentes especialidades esta gente tem, de ter, obrigatoriamente, formação e preparação a outro nível. Até parece que não somos o país do Cristiano Ronaldo, um exemplo de atitude em tudo o que um atleta global tem de ser, antes da dimensão desportiva. Recordando um passado recente, suspeito que, após os Jogos, a coisa não vai ficar por aqui; a festa vai continuar no Palácio de Belém com o entretém popularucho do país de sucesso e ganhador do faz de conta.  E assim cá vamos cantando e rindo numa situação que parece tão bem e nunca esteve tão mal.

“Tristes os que se identificam com tão fracos heróis!”(António Barreto, a propósito de Otelo, Público, 31 jul 21)

Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan