500 árvores em Évora

Ao fim de muitos anos, depois de muitas cimeiras sobre o clima, Paris foi só uma entre quase três dezenas, e a seguir a muitos milhões de estudos e planos, justos para alimentar o mercado, o poder local decidiu plantar árvores. Acertar no caminho não chega.

Localmente pouco mais podemos fazer, mas não chega. Imagine que o objectivo é viajar de Évora a Lisboa, plantar 500 árvores é tão ridículo como chegar ao kartódromo, ficar satisfeito e contar uma história. Quinhentas árvores? O que Évora plantou é uma árvore por 250 hectares.  Évora necessita de cinco ou dez mil, talvez umas 20 mil árvores todos os anos, para que daqui a alguns anos se tenha algum resultado. Por cá os espaços verdes são discretos, o histórico Jardim Público, o famoso Passeio Público de Eça, onde os eborenses pagavam para passear, há muito que foi abandonado por todos, incluindo os eborenses. As avenidas, novas e velhas, estão deficientemente arborizadas. E o Rossio? Uma vergonha indescritível. Hoje o Virgílio daria meia volta e de imediato apanhava o comboio de regresso. E os relvados? O que dizer desta barbaridade? Ainda não se percebeu que a relva nas margens da ribeira da Torregela não pega com nada? Será que a câmara municipal sabe quanto isto nos custa por ano, não contando com o custo ambiental? Com o dinheiro que se pouparia, e mão de obra disponível, seria possível plantar dezenas de milhar de árvores todos os anos. Tudo isto está inventado e não é preciso pensar muito, basta espreitar ao lado. Cascais transformou relvados, em espaços urbanos nobres, em prados naturais, para além de tudo o resto vai aumentar a biodiversidade nestas áreas. Do outro da fronteira Vitória, a capital do País Basco, com cerca de 250 mil habitantes é totalmente percorrida a pé em passeios verdes. Há 30 anos Vitória iniciou o “anillo verde”, um frondoso anel de vegetação que envolve toda a cidade. Talvez valesse a pena que os governantes desta nossa terra fizessem uma viagem de trabalho a Vitória. Porque razão Évora não tem um acção estratégica de médio prazo deste tipo? Se há 30 anos Évora tivesse iniciado a plantação de árvores hoje seria muito melhor para todos nós; muito para além da Capela dos Ossos. 

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan