Lusitano

O Lusitano faz parte da minha vida, declaração de interesse.

Escrever sobre o Lusitano não é coisa leve, é do mais sério que se pode por no papel, já que mais não seja porque faz os alentejanos felizes e orgulhosos.

Este texto é fortemente motivado pela triste notícia do falecimento do Sr. Pepe, que só soube pelo DS. Pela idade nunca tive o privilégio de ver o Sr. Pepe jogar, antes tive a sorte, enquanto criança, de conviver com o Sr. Pepe. Há mais de 50 anos, na Azaruja, fui muitas vezes para a escola de carro com o Sr Pepe. Ir de carro para a escola, era uma coisa raríssima à época. Brinquei muitas vezes com o Tonho, meu parceiro de carteira durante os quatros anos da primária, e a Mariazinha, filhos do Sr. Pepe. Pouco mais sei mas o meu pai contou-me que em idade de júnior vestiu a camisola listada do mítico clube alentejano. O meu avô, que não conheci, e que não era nada macio, proibiu-o de tal heresia e a carreira desportiva acabou.  Recentemente num almoço de amigos soube que de Motrinos, uma bonita aldeia para lá de Reguengos, vinham grupos de homens a pé para ver o Lusitano ganhar aos grandes. Era assim de muitas terras do Alentejo. Na casa do Sr. Borges Fernandes, meu vizinho já em Évora, tive a oportunidade de aceder a alguns números da Crónica Desportiva que dava conta de épicos feitos deste enorme clube. Penso que terá sido com essa bibliografia que percebi a dimensão do clube do meu coração. O Lusitano não se explica, é uma marca cultural única, identitária e por isso de grande valor. Daquelas marcas que se confundem com o Alentejo. Não é mais um clube, é o Alentejo, é único, sai fora de todos os padrões normais de clubismo. Saiba-se que o Lusitano é Membro Honorário da Ordem do Infante D. Henrique, desde 21 de janeiro de 1984 e, desde 27 de outubro de 1984, Instituição de Utilidade Pública; diariamente passam pelo Campo Estrela, “Campo” – até nisto o Lusitano é único, centenas de crianças e jovens que o procuram para praticar desporto na escola de futebol, uma das melhores a sul do Tejo. Hoje, a importância social do Lusitano mantém-se, compreende-se e sente-se muito para além da história. Por tudo isto, e muito mais, quando se escrever, falar ou decidir sobre o Lusitano tem que ser com muito respeito, a nossa alma alentejana exige-o.

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan