desperdício

Se há uma só palavra que caracteriza o nosso tempo e modo de vida é, sem dúvida, desperdício.

Toda a outra conversa de solução tecnológica e/ou organizacional (tipo “economia circular”) para a catástrofe ambiental é totalmente inconsequente. Sejamos verdadeiros.

 É certo que é no desperdício que somos verdadeiramente eficazes. Mal usamos tudo o que tocamos: alimentos, energia, água e até o tempo. Vivíamos perto do local de trabalho, íamos almoçar a casa e agora é o que sabemos. Lembro-me de a minha mãe estar algumas vezes sem ferro de passar a roupa porque o aparelho tinha ido arranjar ao eletricista, que por acaso até vivia no piso de cima. Parece um mundo de ficção, mas não foi assim há tanto tempo. Entretanto, fazem-nos crer que os recursos são infinitos e gratuitos. Os limões chegam-nos do Chile e as reservas de petróleo são inesgotáveis, é mais fácil acreditar no Pai Natal.

Querem-nos vender tudo, as campanhas comerciais assumem uma dimensão sem paralelo e tudo o que não nos interessa passa para o estatuto inverso, os preços dizem-se irrecusáveis e compramos o que não precisamos. Somos alegremente enganados e sentimo-nos felizes. Os centros comerciais são atrativos únicos de grande satisfação para pequenos e graúdos.

Choca-me profundamente o nível de consciência de um coletivo que se deixa ir atrás de um folclore consumista, escandalosamente agressivo, e que se esquece do essencial.

Procura-se agora teoricamente atingir um objetivo que há muito pouco tempo se praticava nas nossas terras: “lixo zero”. Nada se desperdiçava, o porco e as galinhas ajudavam. Agora, para compensar, há uma associação, dita Zero, que supostamente nos defende das agressões ambientais. Zero a fazer muito lixo.

Como nada muda se não mudarmos nós, tudo isto se vai mantendo como se fosse possível e aceitável que uma minoria, muito minoria, delapide um bem comum como se nada fosse. Só falta saber por onde vai quebrar e quando?

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan