a neve da Greta

A Greta chegou à doca de Santos e ali perto, em Algés, há neve, gelo e tudo o mais a que um povo pobre tem direito. Greta trouxe neve. Em Algés, como em todo o país, o Natal  é a oportunidade para uma grande, cara e escandalosa parvoíce: pistas de gelo, arte em gelo e até neve. Enquanto isto, uma gaiata de 16 anos vem cá dizer-nos o que temos de fazer e é recebida com pompa e circunstância, quase com honras de Estado. Não há santa terrinha que não tenha uma pista de gelo. Será que as infinitas pistas de gelo, uma verdadeira aberração cultural e ambiental, não incomodam os PAN da nossa vida? Já alguém questionou esta moda do Natal como se estivéssemos na Suécia? Haja paciência. Acontece que, “ao lado”, massacram-nos com palermices mentirosas como grandes arautos e salvadores da Terra. Alguém, para além do nosso ministro do Ambiente, “que tudo faz, sem nada fazer”, já fez alguma coisa significativa e que valha a pena para a grande causa da emergência climática? Já repararam que apesar das sucessivas cimeiras, relatórios e discursos inflamados, os indicadores são cada vez piores? Querem que os levemos a sério? Querem que fiquemos entusiasmados com os discursos do Guterres? A retórica é irrepreensível, e o resto, a ação? Engº Guterres, pelo menos, diga-nos: como se faz? Quem, que setor, dá o primeiro passo? Será que aceitam falar seriamente no turismo depredador assente no low cost e no consumo máximo? Não há transição possível, só mesmo rotura, ou vamos bater no muro de frente e aí, sim, a coisa muda. Se os dinossauros nos pudessem contar como foi… Já agora, com que dinheiro são pagas as pistas de gelo e qual o custo ambiental de uma cretinice destas? Será que nenhum senhor deputado se interessa por esta matéria?

Comments are closed.

Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan