autoestrada e comboio

Na semana passada, no dia em escrevi sobre a autoestrada estúpida aconteceu um grave acidente na Estrada Nacional nº 4 junto a Vila Boim- Terrugem. Um jornal nacional noticiou e publicou a fotografia de um camião de grandes dimensões que se despistou, felizmente para o talude da estrada. Hoje volto ao tema porque a estupidez é tão grande que não se esgota e merece ser insistentemente gritada.

 

 

Espanta-me muito que a partidarice local/regional não clame por tão justa causa: “portagens a custo que possibilite a criação de riqueza”. Numa linguagem bem mais comum à esquerda do nosso contentamento: “o povoamento do Alentejo e a criação de emprego”, o PCP não diria melhor. Como é que as Comunidades Intermunicipais cá da terra estão quietas e caladas? Como é que a Sra Presidente de Montemor aceita que a sua terra seja esventrada e devassada, com elevadíssimo risco, com um tráfego que nada tem a ver com Montemor? O mesmo Vendas Novas? Será que a estupidez gera estupidez e que, supostamente a hipotética defesa do negócio das bifanas, ou das empadas, justifica tal aberração?

Num momento de pós-crise (?), espero que seja bem mais que um momento, em que vivemos, não seria de os atores regionais revindicaram a conclusão da passagem exterior a Évora do IP2?   Ou será que para a edilidade eborense é aceitável que este transito faça da Av. S. João de Deus o IP2? Até parece que há dois pesos e medidas, por um lado o grande movimento contra o comboio que passa no portão de algumas quintas, e por outro o transito rodoviário que liga o sul ao norte e a fronteira atravessar o centro de Évora. Enquanto houver em Portugal um quilómetro de autoestrada que não seja utilizado pelo custo incomportável das portagens bem pode o António Costa, e os governantes locais, acenar com eficiência energética, descarbonização, luta contra as alterações climáticas, aposta nos transportes públicos, economia circular, ciclovias, etc., etc, que ninguém com um pouco de lucidez os acredita.

Vem de todo a propósito o comboio entre Sines e a Europa; escrevo que devia estar a passar por Évora há algumas décadas. Também escrevo que uma linha deste tipo causa uma barreira terrível no território; ainda pior que uma autoestrada. Também vos digo que não há percursos prefeitos e entre os critérios de escolha também consta, repito, também consta o factor custo – benefício. Ou seja, o tal “sol na eira e chuva no nabal” não existe. Obviamente o que devemos exigir é transparência e que todas as parcelas em causa (ambiente/conservação da natureza, qualidade de vida das populações, risco, economia, etc.) sejam devidamente consideradas na tomada de decisão. Outra coisa não me passa pela cabeça e, exijo, que entidades como a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo e as Comunidades Intermunicipais zelem pelo mais elevado interesse desta região e de quem cá vive, neste e em todos os outros temas. Não aceito nada menos. Este tema dos comboios, a linha que passa por Évora, muito para além das emoções e interesses pessoais suscita-me muitas questões. Lembro-me de todas as boas cidades que são atravessadas por comboios. Pois, vão gritar que aqui, na justa reivindicação de Évora, se trata de mercadorias perigosas. A minha atenção vai para os “desgraçados” que vivem em Sines. Então e a população que hoje paga uma fortuna para viver à beira Tejo junto ao Porto de Lisboa? E no Parque das Nações não passam comboios de mercadorias? Alverca e Vila Franca não são literalmente atravessadas por este tipo de transporte? E a linha que vai por aí acima até ao Porto… Pois bem, erros de ordenamento do passado não devem ser repetidos no presente. É verdade, mas o que esta história me lembra é o contentor do lixo que ninguém quer à porta de casa e que muitas noites muda de localização.

Pelo melhor corredor possível e que o comboio venha quanto antes, já cá devia estar há muito.

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan