A vantagem de andar de olhos abertos é enorme. Quando menos se espera, vemos coisas fantásticas que enriquecem a nossa existência. Um dia destes, nas recorrentes viagens que faço de um lado para outro, onde nada de relevante se espera por razões óbvias, aconteceu uma daquelas situações que valem a pena. Os meus olhos bateram na traseira de um camião TIR que ostentava uma imagem fabulosa. Por ir de olhos abertos ganhei o dia e mais alguma coisa: a enorme fotografia tinha como ponto central um caminho de terra que se perdia no infinito da planície alentejana. Acontece que o referido caminho era ladeado por vinhas, também elas infinitas. A (con)fusão da estrada em que estávamos a rolar (A6) com esta imagem foi qualquer coisa de soberbo. Tão bom como o excelente vinho que produzimos e que, como este exemplo evidencia, tão bem promovemos. Este sublime exemplo mostra-nos que é possível fazer bem mais e melhor.
Há quem o faça, e o mais curioso é que fazer excelente não custa mais e tem um efeito diametralmente oposto ao habitual, cria riqueza e bem-estar social. Trabalhar bem, não há outro caminho que se conheça. No Alentejo temos excelentes oportunidades mas somos poucos e estamos velhos. Quem nos governa não quer diferente, assim é mais fácil; se andarmos de olhos fechados governa-se melhor. Massacro os meus alunos para abrirem os olhos, andam quase todos com os olhos pregados na nova geração de telemóveis. Às tantas até parece (parece?) que nem sabem onde estão. Não vivem o tempo do momento nem o lugar onde estão. Estão sentados lado a lado com colegas e amigos com aquela coisa na mão e não convivem uns com os outros. Não sentem o lugar onde estão. Fazem uma viagem e não olham a paisagem, não têm noção que os rios correm nos vales e que lá em cima estão os moinhos e os marcos geodésicos. É quase certo que não distinguem uma oliveira de uma figueira, a não ser que uma qualquer aplicação que esteja no aparelho mágico o faça. Olhos fechados, provavelmente, esta é a maior doença dos nossos dias.