mágicos do turismo

Continuamos, por mais umas semanas, no tal tempo de férias. Por muito que custe a admitir o sucesso do turismo é apenas o imediato e esta é “apenas” a industria mais predadora do século XXI: o objetivo é viajar cada vez para mais longe em menos tempo com a intensidade máxima, dando uma nova expressão à máxima do “quanto mais melhor.” Depois da viagem em low cost, o turista no destino exige e consome sem limites. Este turismo é um produto do nosso tempo com uma fatura de valor incalculável, que inevitavelmente será cobrada um dia: “faz e leva o quiseres desde que pagues”, o quanto basta para o nosso contentamento. No fim, como sempre é, resta-nos uma certeza o custo disto vai ser enorme. Tudo o que estamos a vender como produto turístico (monumentos e pouco mais) todos os outros têm, muitas vezes melhor.

Os turistas chegam ao Templo de Diana, espreitam e vão embora; no limite desejamos que Mérida, a pouco mais que uma hora, não se meta nesta conversa, senão ainda algum turista se vai sentir enganado. Na melhor das hipóteses talvez um dia, em casa, vejam a dezena de fotografias que tiraram na dita cidade museu. Em oposição, o património natural que devemos viver e vender é único e de grande valor. Nenhum destes turistas é convidado a visitar a serra de Monfurado, sem desprimor para todo o outro campo de serras, floresta e rios únicos. Todavia, paradoxal e lamentavelmente, em Portugal não há turismo de natureza, o turismo em que a comunidade local é o principal protagonista e que cria riqueza muito para além de fazer camas e aparar relva em hotéis de cinco estrelas.  Pior, em Portugal na generalidade a natureza proíbe-se no literal sentido da expressão. Com efeito, a natureza só faz sentido se for “exaustivamente” viva e vivida, mas em Portugal é problemático ter uma casa num parque natural e não se pode acampar na margem de um rio. Nunca será demais lembrá-lo: há em Portugal um capital natural fabuloso e um mercado brutal à porta (o mercado da Europa rica e sem biodiversidade), ávido do que só nós temos. É neste tipo de turismo que deve ser a nossa grande aposta, é este tipo de turismo que pode contribuir significativamente para o tão necessário povoamento do interior. Igrejas e castelos todos têm e não é fator diferenciador. Até os mais distraídos dão pela publicidade da Extremadura no DS, o foco é a natureza; porque será? Enquanto isso, por cá, os mágicos do turismo, com umas dezenas de anos de atraso, lembraram-se agora dos Caminhos de Santiago, desejamos que seja qualquer coisa de melhor que a Grande Rota do Montado, o que não é nada difícil. Já agora, por razões demasiado óbvias, aproveitem a embalagem e liguem o Santuário da Nª Senhora de Conceição, padroeira de Portugal, em Vila Viçosa ao Santuário de Fátima.

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan