Às vezes, a curiosidade é maior que o bom senso e cometemos “loucuras”. Assim foi no feriado de 15, em que rumei a Cáceres pelo Tejo, onde a Confraria Ibérica do Tejo (CIT) organizou um seminário. Mais um a juntar a dezenas de outros que deste há muito vão acontecendo. Como cristão, interrogo-me se terá sido pecado dedicar um feriado santo a ir a Cáceres. Na verdade, os rios merecem isto e muito mais e, no fim, valeu a pena ir a Cáceres. A nova CIT pode ser uma boa oportunidade para cuidar do Tejo, mas aquilo que presenciei em Cáceres deixa-me muitas dúvidas: mais do mesmo, isto é, gastar dinheiro que contribui para a nossa pobreza. Bom, o certo é que em Cáceres o Tejo estava bem representado, o que infelizmente só por si não chega. Do mais curioso que se passou em Cáceres foi, na primeira mesa redonda do dia, ficar evidente que cada um dos presentes tinha uma ideia diferente do que se estava ali a passar. O ponto alto do ridículo aconteceu quando a representante do Governo português, Helena Freitas – mulher com peso, porque coordenadora da Unidade de Missão para a Valorização do Interior – se viu obrigada a intervir e a dizer aos organizadores o que estavam ali fazer.
Pouco antes, com a sua intervenção, a coordenadora tinha efetivamente contribuído para o contrário, isto é, para a confusão consequente. Na verdade a senhora navega nas suas águas sem olhar para as margens e até se esqueceu da sua relevante responsabilidade quando ignorou todo o quadro legal existente em matéria de água, do Plano de Gestão de Região Hidrográfica (PGRH) vigente e da entidade nacional gestora dos rios chamada Agência Portuguesa do Ambiente. Nada de diferente de todos os outros, mas no caso de Helena Freitas, como representante do Governo, é, no mínimo, espantoso. Quem perde com tudo isto é o Tejo. Pela amostra, como alguém disse em Cáceres, pouco mais nos resta do que contar com o “milagre do Tejo”, independentemente dos nove milhões de euros para o território Tejo que o Interreg acaba de aprovar. Todos sabemos que o problema nunca foi falta de meios e dinheiro que nestes seminários sempre são reivindicados, é antes falta de ação transformadora. Provavelmente, se fossem executados apenas 10 por cento da agenda prevista no PGRH o Tejo ficaria a ganhar muito.
A água é exatamente como o fogo, um dia destes, só não se sabe quando e onde, vai ocorrer uma situação extrema e não estamos preparados porque planificamos, reunimos e “aos costumes disse nada”, isto é, não fazemos o que devemos.
Enfim, no caldeirão das ideias, planos, estratégias, estudos e tudo o mais, não se esqueçam da água, por favor.