Quando menos se espera as pequenas coisas acontecem e marcam-nos.
Naquele tempo em Évora todos nos conhecíamos, bem ou mal. Cada um quase era uma figura, o Afonso era mesmo. Distinguia-se pela elegância e bom estilo, a namorada não ficava atrás, antes pelo contrário. Não me recordo se alguma vez bebi uma imperial com o Afonso? Tenho a plena consciência que o Afonso jogava noutra divisão da juventude eborense. A esta distância a divisão café Portugal – Arcada e depois com a intrusão da Zoca até tem piada; na época eram “coisas imexíveis”. Não tenho a plena certeza mas resta-me a memória que o Afonso andava um pouco na margem disto tudo, embora mais para lá (Portugal) do que para cá (Arcada-Zoca). Com o Afonso tinha alguns amigos comuns. Hoje o vereador Eduardo Luciano julga que isto é ficção mas engana-se, era assim Évora há quase 50 anos. Apesar de tudo, em muita coisa, bem melhor que hoje.
A meio da semana fiz o mesmo que que fazia nessa época, corri ao fim do dia à volta das muralhas – que miséria (sim, a palava é mesmo esta). A dada altura, sem ter a certeza pela distância, pelo suor nos olhos e pela visão já gasta, do outro lado da rua, umas décadas depois, pareceu-me ver o Afonso. Acenei e tive retorno. Passou muito tempo, os cabelos agora estão todos brancos, mas a elegância mantem-se e não engana. Passados dois dias, na tórrida noite eborense, na esplanada da Tenda d’ el Rei, o melhor restaurante de Évora, o Afonso parecia que estava à minha espera. Desta vez apertámos a mão, infelizmente a conversa não se perlongou porque o inconveniente telefone tocou e tive mesmo que atender. Todavia ainda houve tempo para a minha pergunta, “então conheceste-me?” e de ouvir a resposta: “claro, igual aquele tempo em que só tu corrias em Évora.” Bateu-me fundo, muito fundo. Não é totalmente verdade mas quase – Os Dianas ainda não tinham nascido. Desporto em Évora era coisa pouca – futebol de bairro, rugby para os filhos de família a que juntavam os touros e as primeiras braçadas nas piscinas municipais – só bem mais tarde surgiu o Aminata. O que me restava? Umas “sapatilhas de ginástica”, as estradas, a circular à muralha e pouco mais.
Obrigado Afonso por me teres trazido à “emoções com ténis” onde há muito não vinha.