2017, tudo como dantes. Um ano e uma comissão interministerial de sete ministros depois, o que mudou? Nada.
Somos um país de 3º mundo (bombeiros voluntários, gente que descansa a consciência com paletes de leite para os bombeiros e roupas para os desalojados…) com riscos, sistemas (comunicações, centro de comando…), equipamentos (jipes, carros de combate, fardas…) de 1º mundo.
A tragédia, naturalmente (como poderia ter sido diferente?), abateu-se sobre o nosso campo. Como avaliar, mais uma vez, o que aconteceu? Aos factos associam-se os comentários e os fabulosos e sábios inventários infinitos de causas. O mais provável é que a principal causa esteja num computador central, algures em Lisboa, sem o qual a decisão não é tomada… Isto é, quem vive o local e conhece os bois pelos nomes, por exemplo: dois GNR, que cortam uma estrada de que o PC de Lisboa nunca ouviu falar, podem evitar meia centena de muito tristes e escandalosas mortes.
Se a dona do café sabia a GNR e os bombeiros locais não?
“Uns metros à frente, no café-restaurante Gil, Lurdes Henriques descreve o mesmo filme. “Muitos turistas até jantaram cá, mas depois entraram em pânico. Queriam ir para Lisboa, só falavam em Lisboa. A uns ainda lhes disse para irem para o lado da Lousã [local contrário à direcção das chamas], a outros, um casal com duas crianças, tanto lhes pedi para não irem. Ainda levaram uma garrafa de água”, lembra.” In: Rádio Renascença, 21 de junho, 8:20.
(http://rr.sapo.pt/noticia/86783/da_agua_ao_fogo_porque_nao_fechou_a_n236_1_a_estrada_da_morte?utm_medium=email&utm_source=newsletter)
No fim os cães ladram e o cortejo de vaidades com bonitas fardas e bons jipes com pirilampos estridentes vai passar e continuar intocável até à próxima.
João Miguel Tavares, no Público (20 de jun.), escreve: “apaziguamos a alma com donativos. Vemos o presidente da República desculpar toda a gente ainda antes de saber o que aconteceu. ”
Fica uma certeza e algumas incertezas, vai voltar a acontecer, não sabemos quando e onde; tudo o que é risco natural acontece nos países ricos e nos pobres. Tudo o resto é outra conversa.
Triste tempo este em que mais recursos, mais meios, mais quase tudo, significa menos, muito menos do essencial. Esta é, na verdade, a maior e mais grave das pobrezas, a incapacidade de fazer o que se deve.
a arder como dantes…:
https://www.dropbox.com/s/803uq8qkcjm85nw/a%20arder%20como%20dantes%20-%20carlos%20cupeto.pdf?dl=0