Évora cidade educadora soa bem. E depois o que acontece para justificar este interessante título? Ao conversar com os meus alunos que são doutras terras e aqui estudam fico esclarecido, se é que a opinião desta gente vale de alguma coisa. Mesmo que só me tenha lido pontualmente (tenho pena se assim for…), o mais provável é que tenha lido alguma coisa sobre o andar a pé, tema sobre o qual muitas vezes já aqui escrevi a vários propósitos. Andar é das minhas maiores convicções. Ando no campo e na cidade e garanto-vos que nada há de melhor; o que descubro e aprendo vale muito, mas, ainda melhor, é o bem estar que esse simples ato nos transmite. Fomos nómadas durante milhares de anos, muitos, mesmo muitos ainda o são, e há quem diga que são os humanos mais livres e felizes. Só conhecemos verdadeiramente um lugar, e as suas gentes, a pé. Os sentidos de proximidade como o tato, olfato e paladar, só se manifestam assim, a pé. Vem isto, hoje, a propósito do ir a pé para a escola, que, em setembro de 2015, por ocasião do início de mais um ano letivo, tive a oportunidade de abordar neste espaço. Na verdade, mesmo os mais distraídos já se deram conta, nas nossas pequenas cidades, vilas e aldeias, da agitação automobilística relacionada com o “levar a criança à escola”. Uma patetice louca.
A oportunidade de mostrar o novo modelo e o filho vestido da cabeça aos pés com as boas marcas, provavelmente com as calças rotas, é irrepetível ao longo do dia. Como o volante é excelente para encontrar motivos de conflito, não raras vezes este é também um dos ingredientes à porta da escola – o stress pelo carro mal estacionado que não deixa passar o pai mais apressado, etc. Ora, nada justifica as filas de automóveis que se formam à porta das escolas das nossas terras. Como não há nada que um homem idealize que outro não realize, em boa hora a Câmara Municipal de Constância, em parceria com outras entidades, decidiu promover a ida a pé para a escola. Excelente exemplo que tem de ser generalizado quanto antes, pois as crianças andam alegres e felizes e ao “saltar nas poças” junta-se o prazer do “contar histórias” e da partilha intergeracional.
Grandes cidades europeias, como Paris, assumem projetos deste tipo como essenciais. Assim, na primeira semana de aulas, pais, professores, polícia, voluntários etc., dedicam algum tempo a ensinar às crianças o trajeto de casa para a escola. Os principais percursos estão devidamente sinalizados, designadamente com indicações adequadas no solo. Em Espanha, muitas terras também o fazem. Por cá, é importante que esta prática se generalize nas nossas terras, pois todos ganham, sobretudo a qualidade de vida das crianças e dos pais. Às vezes não é necessário muito investimento para grandes ideias se constituírem em ações transformadoras de enorme importância; este exemplo que chega de Constância é excelente para o demonstrar.