refood – évora

Um dia destes ao fim da tarde fui a um dos nossos muitos supermercados, aqueles da nossa grande satisfação, e dei com um grupo de pessoas paradas num corredor…, percebi depois que esperavam pela fornada de pão quente. “Pão quente a toda a hora”, é com esta e outras tais que nos cativam como bons consumidores. Não aceitamos menos. Sou do tempo em que ia com o meu pai ao sábado à Torre dos Coelheiros, vá lá saber-se porque à Torre?, buscar o pão para toda a semana, “pão casero”. Para nossa casa e para uma série de vizinhos. Hoje muitos de nós não aceita comer pão de ontem. Mas os pobres, doentes, velhos, novos, desempregados, etc. continuam a ser nossos vizinhos e estes, muitas vezes, não têm que comer. Não é lá longe, como muitas vezes a televisão nos mostra, é na nossa rua. Pessoalmente não faço a ideia do que é viver com o ordenado mínimo, ter que escolher entre uma garrafa de azeite e as lâminas de barbear. Todavia sei que hoje, muito mais do que no tempo do pão da Torre, vivo numa sociedade de desperdício. O desperdício é uma das marcas do nosso tempo que mais me incomoda. Basta pensar no desperdício que nos caracteriza para perceber que “esta coisa” não pode ter um final feliz. Algo vai ter que mudar radicalmente. No mínimo é estranho, ou seja, para sermos mais correctos, é inaceitável um mundo em que a percentagem de obesos é semelhante à percentagem de pessoas com fome.

Para cada americano consumir cerca de 120 quilos de carne por ano e um português mais de 90, há muita gente que passa fome. Num recente estudo, realizado por uma universidade portuguesa idónea, soube-se que uma em cada cinco famílias em Portugal encontra-se em situação de insegurança alimentar por não ter acesso a uma alimentação saudável e por receio de não ter o que comer por motivos financeiros. Vejam bem onde chegámos em 2017, tenho vergonha deste resultado civilizacional. Isto tem que nos incomodar, é na nossa terra. Que raio de “coisa” é esta em que vivemos? Esta realidade não pode deixar ninguém descansado. Também por isto em Évora um grupo de voluntários está prestes a arrancar com o  Refood – Évora, isto é, recolher comida onde ela sobra (restaurantes, refeitórios etc.) e entregar a quem necessita. Só isto. Para que tal possa acontecer brevemente a Refood – Évora necessita de dinheiro para pagar a luz, água, detergentes, etc. Todos os donativos são muito em vindos, indispensáveis para alimentar quem precisa: refood.evora@gmail.com; Sofia Melo Breyner  – 912080849; José Tavares – 924136989.

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan