No passado domingo, como acontece todos os meses, andei com o “Tejo a pé”, um grupo informal de caminheiros, no Oeste. Andar pelo campo é do melhor que podemos fazer por nós. Andar, como é simples e acessível a todos, na generalidade esquecemo-lo. Um errado modo de vida assente numa tecnologia de valores e efeitos duvidosos para aí nos conduziu e a isso nos convida. Nós deixamo-nos ir. Entretanto, pelo Oeste, neste passo a passo de caminheiros demos com uma enorme cerca onde estavam umas largas dezenas de cabras. Realçava, no meio de alguma bandalheira, o vivo laranja de muito mogango que tinha sido dado aos animais como alimento. Rapidamente se ouviu, dito por um local, “este ano houve muitas abóboras”. A poucos quilómetros, aqui no Alentejo, das ditas abóboras, ou seja do mogango, resulta uma das melhores sopas que pode sair de qualquer cozinha: o feijão com mogango.
Esta é a enorme diversidade cultural deste país, provavelmente o seu maior património. Vem isto a propósito de algo que tem de ser enaltecido porque traduz uma iniciativa de enorme mérito e valor em prol da cultura local: o festival de sopas do restaurante O Garfo. Aquilo que o Sr João Marques e a Dª Leontina fazem durante os próximos oito dias merece ser reconhecido e louvado. Este é na verdade o enorme valor do local numa iniciativa individual em prol da nossa mais autêntica cultura, saboreada com enorme qualidade à mesa. Com o Sr João temos ainda certeza do adequado e justo vinho, cá da terra, a acompanhar e a valorizar o prato. Dificilmente noutro qualquer bom restaurante vamos encontrar uma sopa de catacuzes com feijão ou um calducho com esta distinção. A pequena atitude de O Garfo faz uma grande diferença. Mesmo que muitos com dever institucional o ignorem absurdamente, enquanto se cozinharem pratos destes sabemos que estamos vivos. Um dos nossos problemas é que a mais das vezes nos entretemos com as habituais lamúrias e não fazemos. Resta-nos a grande alegria dos excelentes exemplos que vão subsistindo. As sopas da nossa vida até 31 de janeiro, muito obrigado a O Garfo.