Que projectos e estratégias locais se traduzem em melhor vida para as pessoas nas suas terras? Mas a questão fundamental não é só esta. É obrigatório avaliar e eficácia e o efeito dos investimentos que apelam à qualidade de vida das pessoas. Na verdade, desde sempre que se fala, escreve e disserta sobre o desenvolvimento local. As origens da concepção mais moderna do desenvolvimento regional/local são múltiplas, heterogéneas, às vezes contraditórias, e quase sempre dispersas no tempo e no espaço. Neste contexto, os resultados do dinheiro gasto, muitas vezes seguindo brilhantes estudos estratégicos de excelentes consultores, a maioria das vezes oriundos de Lisboa, são muito questionáveis. Mais coisa menos coisa a mesma receita é aplicada de Trás – os – Montes aos reinos mais a sul. Sempre a crescer é o que nos vendem como necessário. Olhe à volta: conhece algo que assim seja sempre a crescer? Não está escrito em lado nenhum que prosperidade, qualidade de vida e bem-estar só sejam possíveis com crescimento. Aliás, no seu livro “Pequeno Tratado do Decrescimento Sereno”, Serge Latouche torna evidente o absurdo e o erro do crescimento contínuo.
Alguma evolução na qualidade da acção no terreno muitas vezes não passou de retórica. Por exemplo: “desenvolvimento inteligente” ou, mais pomposamente, “estratégia de eficiência inteligente”. Ainda estamos para ver o que é isto na prática. Sabendo que a estratégia é a forma de pensar no futuro, integrada no processo decisório e visando os resultados, percebemos que tudo, ou quase, foi ao contrário. Muito menos foi feita uma análise séria à eficácia do dinheiro gasto – não escrevo, propositadamente, investido. O desafio não é novo, repete-se e continua a ser grande: como usamos os recursos de que dispomos em prol de um maior bem-estar e qualidade de vida das pessoas nas suas terras? Num país rico em preconceitos culturais, ideológicos e políticos, é fundamental que se redefinam, desde já, alguns conceitos essenciais. Território é muito mais que circunscrição administrativa, é um ecossistema vivo e social que deve ser vivido; gestão e ordenamento do território não são a mesma coisa, mas são ambos essenciais à acção; desenvolvimento não é crescimento, é muito mais vida. Só com um trabalho muito sério a nível local, formando redes regionais, conseguiremos evitar efeitos depredadores de “dependência” e degradação ecológica e cultural.
Senhores autarcas e candidatos a autarcas, a bem das vossas terras e gentes, por favor, sejam exigentes e competentes. A bem de todos, assim seja.