Durante cerca de 40 anos pouco ou nada se ouviu falar de Almaraz e a central esteve estes anos a laborar no mesmo sítio, no Tejo. Seja como for o fecho da central, quando acontecer, será muito mais exigente e complicado que a sua operação. Entretanto suspeita-se que o governo espanhol decidiu ampliar o tempo de vida de Almaraz e vai construir um aterro de resíduos nucleares. Duas questões ótimas para alimentar os ecologistas de cá e de lá. Tema sensível para tempo de antena, excelente para estes empregados da ecologia que vivem de programas e subsídios nacionais e europeus. A independência económica destes clubes verdes é muito ténue e quando assim é o resto adivinha-se. Obviamente a opinião pública e o governo vão atrás, têm que ir. Tudo isto parece que se reduz à necessidade de uma avaliação de impacte ambiental transfronteiriça e de uma queixa a Bruxelas como nunca antes tinha acontecido. Quem conhece um pouco de avaliação de impacte ambiental (AIA) sabe honestamente que, infelizmente, a esmagadora maioria das vezes este procedimento é um pro-forma legal que se ajusta às conveniências dos promotores; bem à medida. As decisões estão quase sempre tomadas e o elencar de um conjunto de medidas de minimização não resolve o “problema” mas serve para acalmar a corte. Comparar este folclore com a importância e interesse económico e social de Almaraz é ridículo.
Isto não significa que o risco não exista e que não deva ser acautelado com toda ciência e meios tecnológicos disponíveis. Ora, na presente situação o tema tem um potencial elevado risco e a coisa não se resolve com um estudo como se reclama. Vai-se por aqui porque nada mais se pode pedir ao governo espanhol e na verdade o eventual estudo na prática pouco ou nada iria alterar. Sobre a queixa a Bruxelas devemos saber que esta não tem efeitos suspensivos e nada altera as intenções do governo de lá. Muito provavelmente quando Bruxelas disser alguma coisa obra já estará numa fase avançada. Esta semana, em Lisboa, como que a retribuir a visita do nosso Ministro a Madrid na semana passada, o governo espanhol anunciou que a obra irá arrancar dentre de dias, imagine-se. Na sequência ouvimos uma Secretária de Estado portuguesa confessar a esperança num bom acordo entre os dois países. O que será um bom acordo? Intriga-me muito. O fecho de Almaraz? Por tudo o que se tem dito e escrito esse é único final que se aceita como bom. Sei e todos sabemos que o aterro de resíduos nucleares vai ser construído e por isso não se compreende o que é “um bom acordo”. Do lado de lá no mesmo dia do anúncio do arranque da obra para muito breve ouviu-se um argumento simples e eficaz, “podem os portugueses estar descansados porque para além de tudo vamos garantir a segurança do povo espanhol”. Nesta linha o que do lado de cá o que se deve exigir é conhecer detalhadamente o projeto, as medidas de segurança que vão ser tomadas e o programa de monitorização. Isto é, aproveitar a “boleia” para garantir que as intervenções em Almaraz diminuem o risco, mas não, como quase sempre é o faz de conta.