Agora que o frenesim do regresso às aulas nos faz esquecer (quase) tudo, é a altura ideal para dar, mais uma vez, a minha achega a tão problemático tema – os fogos.
Antes da questão do dia convém deixar claro que, naturalmente, admiro e enalteço toda a ação de voluntariado em prol do próximo.
Como todos os anos, o tema da floresta e dos incêndios esteve largas semanas na agenda e em tempo de rescaldo as contas já todas foram feitas? Nem todas. Ainda não compreendi se os enormes prejuízos dos incêndios deste ano têm, ou não, influência nas contas do país? Julgo que tão pouco a maioria de nós tem a perceção de que ficámos todos muito mais pobres, e não apenas os que perderam casas ou outros bens, isto sem falar nas vidas humanas que mais uma vez se perderam – sempre os mesmos, os mais frágeis (idosos, pobres…). Na verdade, depois de tanta tinta e conversa ainda não percebi quanto custa nem de donde vem o dinheiro para fazer face à catástrofe?
Os dias dos maiores fogos, Madeira e Arouca, coincidiram com as minhas férias no campo. Andei, passo a passo, algumas dezenas de quilómetros na floresta do centro do país e a pergunta que constantemente me assolava era só uma: “como é possível isto não arder?” O estado em que se encontra, a floresta vai arder de certeza. Como pode ser diferente? Como pode esta floresta ser limpa?
Ninguém duvide que o cenário deste ano se vai repetir todos os anos, como até aqui; os mais ou menos hectares de área ardida vão depender somente de mais ou menos calor e de outros fatores circunstanciais. Nada de novo. Como alguém com autoridade escreveu, “o fogo é incontornável”.
Mas as questões que quero formular são outras, pois não me recordo de as ter visto formuladas. Quanto custam os bombeiros voluntários ao país? O cenário, de guerra, a que assistimos este ano é passível de ser combatido por voluntários?
Assiste-me a convicção de que a opção de “transformar” voluntários em profissionais sai muito mais barata ao país e aumenta em muitas vezes a eficácia no combate ao fogo. Obviamente que no país do “faz de conta” que somos este é um tema tabu. No tema dos “bombeiros voluntários” ninguém toca, seria qualquer coisa quase que aparentada a uma revolução.
É muito curioso que neste mesmo jornal a noticia mais lida do mês tenha sido “Parece que os bombeiros são uns desgraçados mas não é verdade”, refiro-o apenas como um facto.
No próximo verão vamos ouvir a mesma retórica e ficaremos ainda mais pobres.