Antes de iniciar este escrito dei uma volta por alguns sítios de informação. Nada mais se lê que banca, europa e terrorismo, o maravilhoso mundo a que chegámos e em que vivemos. Até o Europeu do nosso contentamento começa a ficar distante, embora as medalhas do Senhor Presidente continuem a ser distribuídas.
Bem a propósito, um amigo, gestor de empresa própria de sucesso, sempre bem informado, escreveu-me: “até o LIDL já compra a fruta e as verduras aos produtores locais. Enquanto isso tens o presidente do governo de Espanha a dizer que a situação de Portugal é muito pior que a de Espanha, Portugal a dizer que está melhor que a Grécia, a Itália a dizer que está melhor que a Espanha, a França a dizer que está melhor que a Itália e estes cabrões todos fazem uma suposta União Europeia… O que é um belíssimo exemplo do que significa a globalização!” Transcrevo porque me parece uma excelente imagem do esterco em que vivemos. Triste vida esta que nos entra pela casa dentro e sobre a qual nada, ou quase, podemos fazer. Esta é a face oposta do que escrevi a semana passada sobre a vida de proximidade. Ganha força uma questão que formulei há muitos anos e que, certamente, por aqui já a terei escrito: “quanto vale um hectare de terra fértil com um poço de água potável?”
Cada vez penso mais nesta questão e sei que não estou sozinho. Um dos amigos que desabafam estas tontices, que questionam o actual modo de vida estúpido e patológico, expressa exactamente o mesmo com uma cabana à beira Tejo. Cada um à sua maneira. O certo é começamos a saber de gente que tem a inteligência e habilidade suficientes para ganhar o sustento no modelo de vida vigente e viver verdadeiramente fora do sistema, no hectare, na cabana ou no que seja.
Ontem, numa ação do Ciência Viva no Verão – que vos aconselho vivamente em www.cienciaviva.pt -, andei por umas pequenas terras de sonho do interior despovoado. Terras onde, nesta altura de dias longos e quentes, o tempo passa devagar, com tempo para ser vivido e não na correria louca do “instante” e de tudo, que se traduz em nada, à distância de um click. Dias como o de ontem mostram-me, cada vez com maior evidência, que me é mais insuportável este mundo virtual, sem rosto, onde, simbolicamente, escrevo este texto – abençoado caderno e lápis com tempo para errar, apagar e corrigir.
Tempo para viver. A velocidade e a ilusão são tamanhas que muitas vezes, numa breve pausa de fim do dia, a questão é incontornável: “quem sou, onde estou e para onde vou?”. Eu posso não saber, mas estou seguro que muitos o sabem porque lhes interessa sobremaneira e vivem da carneirada em que me sinto. Sou mais um que alimenta e sustenta a máquina ordeira e pacificamente, dia após dia, ano após ano.
Até quando?