“basta fazermos 4 pontos contra a Hungria e estamos safos”

post scriptum – hoje, dia 13 de julho, ocorreu-me num repente, que devo reconhecer a “injustiça” de alguma coisa que aqui escrevi no passado dia 24 de junho. Seja como for vale a pena escrever sempre com a autenticidade da consciência, assim continuarei a fazer. Ainda bem que fui “injusto”.

Escrevi este escrito antes do jogo  da fase de grupos em que se decidiu: regresso a casa ou o jogo dos oitavos de final. Como habitualmente, para quem já era campeão há umas semanas é estranho que se admita o regresso a casa na fase de grupos. Mas na verdade, salvo a exceção dos últimos campeonatos, o normal é que isto aconteça, é autenticamente português. Até poderá ser que o Cristiano Ronaldo jogue como deve e nos surpreenda favoravelmente contra a Hungria mas o habitual não é ser assim. É profundamente português esta triste sina das vitórias morais e de falhar no essencial. Horas e horas de análises e comentários, páginas e páginas de textos nada ajudam a compreender o essencial e o importante de sempre assim ser. Tudo isto só serve para complicar o que é simples; somos assim, ponto. Não tem, nem carece de explicação.

 Um pouco sem querer assisti ao Portugal-Áustria com um grupo de amigos à volta de uma mesa num excelente e popular restaurante. O momento teve grande valor pelo convívio de amigos, pela ótima degustação de boa e simples cozinha, mas nada mais. A juntar à “desgraça” do jogo tudo o resto somou na coluna negativa. À cabeça está naturalmente a atitude dos meus concidadãos, quase tudo o que é mau se manifesta como consequência da frustração futebolística. Os adultos portam-se ainda pior que as crianças mal educadas por progenitores com um comportamento social inqualificável. Viva o futebol que para tudo serve e tudo justifica. Até que me lembre desta experiência, o lar, doce lar, vai ser o meu estádio, com ou sem futebol. Cada povo tem a seleção que merece – campeã europeia, mais uma vez, há umas semanas e, na altura certa, quando joga, arrisca-se a descansar muito mais cedo do que era suposto. Eventualmente para alguns até é possível descortinar razões para que seja melhor assim. Pelo contrário, a grande maioria terá o habitual “mérito” de levar o campeonato muito para além da data do seu fim com debates e análises bacocas sem fim. Por ora, como sempre, vivemos uns dias em que a tónica anda à volta da calculadora. E aqui, reconheço, sejamos sinceros, uma notória evolução no sentido de humor e na maneira de encarar tudo isto. A este propósito, num jornal online José Miguel Pereira escreveu: “basta fazermos 4 pontos contra a Hungria e estamos safos”. Brutalmente delicioso, viva Portugal.

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan