Há qualquer coisa como 42 anos comecei a correr nesta Évora. Poucos corriam. Corri porque desporto em Évora, nessa época como hoje, não é fácil. Desde que saía de casa até que regressava ouvia bocas. A corrida é fácil, uns ténis, uns calções – sempre calções, confesso que não me soa bem gajos com leggings – estrada ou campo e já está. O difícil, como em tudo, só está na cabeça de cada um. Ainda por cima os ténis são leves e acompanham-nos para todos os lados. Hoje corri pela primeira vez numa competição em Évora. Sem ritmo de corrida, com poucos quilômetros nas pernas, mas com emoção. A emoção de uma corrida misturada com muitas outras, tantas que não dá para listar. Logo à saída da Praça do Giraldo sou-me um Bé – o Tó Mané numa bike disfarçado com um capacete, quase impossível reconhecê-lo. Como sabemos a corrida é uma excelente oportunidade para pensar, reflectir e até mesmo meditar; às vezes roça a oração. Rapidamente o meu passado recente de corrida passou pela tela das minhas melhores memórias – os muitos amigos da Parede e arredores, o Britânia, os muitos treinos de inverno ou verão, noite ou dia – que fácil é correr e conversar com o Francisco e como os quilómetros passam a ouvir o Pedro Loureiro – e as muitas corridas a ver passar o Rui Pedro e a ouvir o eborense Júlio Meireles a animar a festa. Ainda houve tempo para o enorme Falcão e saber que o Favinha ficaria nos 10 primeiros. Resta – me a Vanessa que entre as aulas da Maria João Cabrita e as adegas, praticamente sem treinar, continua a não nos envergonhar; segundo lugar da geral, com 43 min, logo atrás da atleta dos Diana. Talvez por tudo isto a corrida de Évora foi estranha. Os poucos que reconheci, mais velhos, bem mais velhos como eu, vi-os passar quase todos vestidos de amarelo, a cor da corrida em Évora. Diferente é não se falar, tudo a correr e ninguém diz nada, que falta cá fez o Pedro Rodrigues ou o Belo, ainda tentei meter conversa mas não houve resposta. O percurso é simpático e a organização cumpriu, pena não haver a informação quilométrica ao longo do percurso, bastava um spray na estrada. Uma boa experiência no Alentejo despovoado com pouca gente a correr o que me levou ao pódio com o segundo lugar de veteranos V, coisa nunca vista, só mesmo no Alentejo. A roda da vida não pára e antes que o dia acabe o Simão, um dos dois cães da minha vida, partiu, a M João Oliveira voltou ao hospital e no sentido inverso o meu querido vizinho Agnelo comemorou 66 anos.