Estive na sessão “mil ideias por Évora” no Palácio D. Manuel (14 de maio) e li a revista Alentejo que trata o tema. Nada de novo. É arrepiante e absurda a situação em que Évora se encontra. Como foi possível chegar até aqui? A ponto de Manuel Branco afirmar “quando visito qualquer terra tenho vergonha de Évora”. Os mais ingénuos, e não só, justificam pelos 12 anos de má governança e pelo endividamento. Será mesmo só isso? Não creio, na verdade assiste-me a convicção que ao longo dos anos houve um propósito intencional para que Évora não progredisse. Um “trabalho tão bem feito” não acontece por acaso ou por mera incompetência. E agora? As diferentes intervenções na meritória iniciativa do Palácio D. Manuel denotam um traço comum: até o mais elementar nos falta, a começar por casas de banho públicas e a terminar no caricato Rossio de S Brás. Como pode assim uma cidade UNESCO apostar no turismo? Só mesmo porque o contexto internacional a isso conduz. Todavia, provavelmente, o mais grave em Évora não é nada disto.
O mais grave é a patologia social de Évora. Nesse próprio dia 14 de maio terminou em Évora, um fantástico, diversificado e gratuito programa cultural – a I Semana das Artes da Universidade de Évora. A cidade passou totalmente ao lado desta iniciativa e paradoxalmente queixa-se de falta de oferta cultural. Os eborenses estão divorciados da sua cidade. Bom, na verdade, poucos, muito poucos são os que vivem em Évora, a grande maioria vive em arrabaldes urbanisticamente vergonhosos e totalmente separados de Évora. Este é o enorme problema de Évora. A população de Évora vive fora de Évora. A solução deste problema é muito difícil e vai levar décadas a ultrapassar se entretanto for escolhido um caminho acertado. Só mesmo uma patologia grave pode considerar um sucesso a participação de 75 pessoas; é demasiado pobre para ser satisfatório.
O que vou escrever a seguir, como sempre, nada tem a ver com pessoas mas com ideias. No Palácio D. Manuel o que foi dito em matérias tão importantes como o turismo e as opções estratégicas e de desenvolvimento para Évora é inacreditável. Depois de todas as aldeias terem abandonado o discurso do “conhecimento e da inovação” Évora vai apostar nestas bacoquices já ultrapassadas por (quase) todos? Aos costumes disse nada. O mesmo se deve dizer relativamente ao turismo – “diagnóstico e planeamento”? “marca”? Apetece dizer, façam as casas de banho que o resto vem por acréscimo.
Uma última sugestão não é o Rossio, fico-me pelo jardim público – mata, eis um bom candidato à maior vergonha de Évora. Outrora, estes espaços eram apropriados, vivos e vividos pelos eborenses. Os mais antigos têm excelente memória dos concertos no coreto. Não só não tivemos, como qualquer terrinha, a capacidade para construir o Parque da Cidade (que à boa maneira de Évora até debate público teve, há mais de 20 anos ) como desprezamos um excelente espaço verde dentro do centro UNESCO. Chocante, abstenho-me de escrever mais sobe o jardim-mata, tenho vergonha.
Tudo isto é tão mau que o futuro só pode ser melhor
olá amigo Carlos Cupeto boa tarde e bom fds.
Parabéns pelo claro, conciso, correcto, simples, completo elucidativo, desasombrado, inteligente, fulcral, e sobretudo corajoso texto ou artigo.
Paraabéns e um abraço.
Humberto Baião
http://mentcapto.blogspot.pt/2014/02/177-redundancias.html