arraiolos

Évora, o que fazer num domingo à tarde?

Esta é uma questão que me persegue. Não consigo encontrar uma resposta capaz. Pergunto insistentemente a vários amigos e nada.

Depois de visitar os novos magníficos espaços da igreja de S. Francisco, onde, logo por azar, a excelente vista da varanda me faz esbarrar no Salão Central Eborense, o que fazer?

No meio de tanto património, história e cultura, o que sobra? Os quatro Pingo Doce? Aqui há sempre boas campanhas que os eborenses podem aproveitar num domingo à tarde.

Pela cidade deambulam uns quantos grupos de visitantes que às vezes parecem meio perdidos, e perguntam o que há para além das bonitas paredes e ruelas? Talvez só mesmo o regresso a casa, com sorte, depois de bem almoçados – na boa comida Évora continua a ser exemplar.

O domingo está frio, as arcadas geladas, as queijadas do Arcada já foram e de todo não me apetece apanhar com o péssimo serviço do emblemático espaço. Dadas duas ou três voltas de automóvel pela Praça do Giraldo, em fila, porque o clássico é praticado por muitos à espera da hora do futebol, o que resta? A estrada. Talvez ir espreitar o Alto de S. Bento.

Na verdade, a estrada de Arraiolos continua a convidar, porque não?

Lembro-me e confesso que há anos, anos de mais, não vou a Arraiolos.

A pacatez da paisagem, envolta num monástico silêncio… é arrepiante e triste, transporta-me para memórias de outros tempos. Em tempos difíceis, como terá a minha ex-aluna Sílvia pegado na (boa) herança do enorme Loio é uma das questões que me assola.

Arraiolos como sempre, magnífica.

A vila está deserta, o frio justifica? As lojas de tapetes estão todas abertas mas quem lá está, os artesãos donos, estão tristes e derrotados, ninguém aparece. Não se vendem tapetes e a arte está condenada. Vai restar a memória e o museu. Os hotéis em Évora não param de abrir e o número de turistas não para de aumentar. Na feira do turismo em Lisboa somos os maiores. Arraiolos está só a 20 km, e?… E nada. Arraiolos está perfeita, nada falta fazer – a cereja em cima do bolo é a iluminação led. Mas faltam pessoas que comprem tapetes. Enquanto assim for, podem-me falar de todos os bons indicadores de turismo e de tudo o resto, é conversa fiada, areia para os olhos. Por que razão os turistas não vão a Arraiolos ver e comprar tapetes? Ou, já agora, porque não estão os tapetes em Évora? Era significativo saber, dos turistas que visitam Évora e que enchem os hotéis, quantos ouviram falar dos tapetes de Arraiolos? Ou será que é irrelevante existirem uns tapetes como os de Arraiolos a 20 quilómetros de Évora?

Tudo o que se escreve sobre tapetes pode escrever-se sobre os chocalhos, as loiças do Corval e Estremoz, as facas da Azaruja etc., etc.

Triste realidade esta.

( não hajam dúvidas sou eborense e amo esta terra)

 

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan