Quando escrevo sobre o Tejo tenho dificuldade em titular. Sinto que tudo o que vai para além de Tejo é redutor. Vem isto a propósito do II Fórum Ibérico do Tejo que em meados de março acontecerá em Vila Franca de Xira e que, certamente, muito andará por estas páginas. Mas antes, Vila Franca de Xira. Se o Tejo tem umas portas em Vila Velha tem outras em Vila Franca. Sobretudo para quem vive na planície deste lado, Além Tejo, isto é uma enorme verdade; Vila Franca é bem mais que uma porta, é uma majestosa entrada que anuncia outro mundo, a Lezíria e tudo à volta.
Só por isto mas não só, o local de realização do II Fórum é muito bem escolhido. Na verdade, é em Vila Franca que o Tejo acrescenta outras valias com o seu imenso e fabuloso estuário. Um estuário de um valor incalculável e que basicamente um país, pobre e mal agradecido, ignora. Como alguém disse um dia, é “um imenso palco onde nada acontece”. Só podemos mesmo ser pobres; um país que tem um “palco” destes e que não o utiliza não pode ser levado a sério. Nestes dias em que só se fala de orçamento e contas, impõe-se a pergunta: quanto seria o nosso PIB se o valor do estuário do Tejo fosse contabilizado e aproveitado para criar riqueza? A nossa identidade cultural internacional “de país de marinheiros e navegantes” é outro bem raro que temos. Poucos países no mundo têm uma imagem tão forte e de tão grande valor. O pior é que quem nos visita não vê a correspondência dessa imagem com a realidade. O Tejo e o estuário, são bons exemplos do que escrevo. Desprezamos os bons recursos que temos. Muito mais do que estruturar um território um rio, como o Tejo, é a vida e a alma desta terra. O Tejo não separa, une Portugal a Espanha, Santarém a Almeirim, Lisboa a Almada. A produção de energia não é incompatível com a pesca. A agricultura não é contrária ao turismo. Será que não somos capazes de aproveitar o muito que este rio nos oferece? Como gastamos o dinheiro público? O que fazemos para merecer o Tejo? O Tejo exige-nos ser vivo e vivido. Como se disse um dia “um rio onde se pesque e nade”, tão simples quanto isto. Uma boa causa é eleger, desde já, o Tejo como causa pública de grande valor e agregar uma rede de partes interessadas (quem pode ficar de fora?) que semanalmente traga o Tejo, nas suas imensas valências e questões, para a opinião/debate público. O Tejo necessita de toda a agenda que se desenhe na certeza que nos continuará a compensar.