ciclo

[esta é a história do ciclo hidrológico e litológico um dia escrita para um aluno do secundário]

   (água)

Não há principio nem fim. Nada começa nem acaba, tudo evolui dum estado a outro.

As minúsculas partículas de vapor de água agregam-se (condensam-se) por acção da pressão e temperatura e caiem sobre a forma de chuva, neve ou granizo na superfície da terra. Essa água escorre (rios) ou infiltra-se (água subterrânea – nascentes, poços e furos), uma outra parte evapora-se e regressa desde logo de onde veio, às nuvens. Aqui, nesta fase, as plantas têm um papel essencial – evapotranspiração. A água subterrânea liga-se à superficial pelas fontes e nascentes. As fontes e nascentes alimentam os rios. Tudo isto é um ciclo, composto por pequenos ciclos que não param.

Parte de toda esta água é permanentemente evaporada, e também evapotranspirada pelas plantas e passa a nuvens.

Os rios chegam aos oceanos. Estas enormes massas de água evaporam-se e acabamos no início.

Assim é o ciclo da água.

A água é só uma.

(rochas)

Igual à água é o ciclo litológico.

Terra é um ser vivo. Nada está estático na Terra.

A muitos quilómetros de profundidade, no seio do planeta Terra (a Mãe Terra), todos os materiais estão fundidos, uma pasta mais ou menos viscosa a que chamamos magma. A Os magmas são fluidos e por isso têm boa capacidade de migração, muitas vezes chegam à superfície e dão origem aos espectaculares e magníficos vulcões. Na superfície os magnas arrefecem rapidamente e dão origem a rochas amorfas, sem cristais, os minerais não têm tempo para se desenvolver (ex: basalto). Em profundidade os magmas arrefecem lentamente e todos os elementos químicos que os constituem organizam-se por afinidade química e por temperatura e pressão características (processo que se chama cristalização fraccionada – os diferentes minerais têm temperaturas e pressões de formação muito próprias) e vão-se formando constituindo as rochas cristalinas (com cristais visíveis, o granito é um bom exemplo). A Serra de Sintra, visível num terço, os restantes 2/3 estão submersos pelo Atlântico, ou a Serra da Estrela são dois magníficos exemplos de maciços essencialmente graníticos.

Estas rochas magmáticas, também ditas primárias, ao longo da história da Terra, onde tudo está em movimento (tectónica de placas, orogenia – formação de cadeias montanhosas, os Himalaias por exemplo, etc), à superfície da Terra (a Serra da Estrela p.e.) ficam sujeitas aos agentes meteóricos (chuva, vento, temperatura etc.). Daqui resulta um fenómeno que se chama erosão. Todas as rochas à superfície da Terra ficam sujeitas à erosão, “sofrem “ as acções, químicas e físicas, do clima. Estes materiais, ficam então sujeitos ao agente de transporte, o vento ou a água (pensar nas dunas ou num rio). Para além da alteração física (também conhecida por meteorização) a água actua quimicamente sobre os minerais que constituem as rochas magmáticas e todas as outras. Por isso além da carga sólida, os calhaus no fundo e os grãos em suspensão, há um conteúdo químico dissolvido na água dos rios ou na água subterrânea (em permanente contacto com as rochas) que resulta do contacto da água com as rochas.

Os materiais sólidos, quando o agente de transporte perde capacidade de transporte, depositam-se. Pensar nos calhaus nas margens do rio ou dos mouchões do Tejo. A areia das praias é transportada dos continentes pelos rios. Por isso, às vezes, ouvimos dizer que as barragens podem afectar as praias. As barragens retêm o transporte da carga sólida.

Também os materiais dissolvidos por modificação das condições de pressão e temperatura através de ligações químicas formam novos minerais e rochas. Um exemplo disto são alguns calcários resultantes de precipitação química.

Este tipo de rochas chamam-se sedimentares, resultam dos sedimentos que têm origem na rocha mãe pré-existente.

Os sólidos depositados no oceano, ou na foz de um rio (o rio aí perde a sua capacidade de transporte e deposita) vão–se afundando na crosta da Terra pelo peso dos que vão ficando por cima até atingirem zonas mais profundas do manto da Terra. Este fenómeno é muito importante e chama-se subsidência. É a subsidência que leva os materiais depositados a afundarem-se na crosta da Terra até atingirem o manto. Estas rochas sedimentares (formadas por materiais que resultam de outras) em profundidade, na Terra, ficam então sujeitas a pressões e temperaturas elevadas. Estamos no ambiente metamórfico. As rochas são as metamórficas. Os calcários passam a mármores. Um mármore não é mais que um calcário cristalizado. Uma argila (constituída por grãos muito finos e formada, por exemplo em ambientes muito calmos como lagos ou em fundos oceânicos onde é possível estes grãos da dimensão de poeiras depositarem), sujeita a estas pressões e temperaturas (metamorfismo) dá origem a um argilito e depois a xisto.

A seguir todos estes materiais ficam sujeitos, como sempre acontece, a temperaturas e pressões ainda mais elevadas fundem e eis, aí está o magma.

Muito brevemente este é o ciclo litológico, sem princípio nem fim, onde tudo se transforma.

Para compreendermos o ciclo litológico devemos pensar no factor tempo. O tempo, os milhões de anos da história da Terra é tão importante como a pressão e a temperatura. Um exemplo: há muito, muito pouco tempo, se considerarmos toda a história da Terra (cerca de 4,5 mil MA) o Tejo desaguava na lagoa de Albufeira, muito a Sul da Costa da Caparica. Há cerca de 100 milhões de anos o mar chegava a Abrantes.

A geologia só se pode compreender se tivermos uma noção, ainda que aproximada, da importância do tempo. Provavelmente é por isso que se diz: “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”.

 

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan