património da humanidade – Évora

Tive a oportunidade de assistir, nos Paços do Concelho, à comemoração dos 29 anos da classificação de Évora como Património da Humanidade (UNESCO). A oportuna alusão do Presidente da Câmara não só historiou como apontou o caminho. Évora assume o seu património e tem uma estratégia. Apenas ouvi os tópicos que o Presidente entendeu transmitir e não conheço a dita estratégia. Seja como for, no limite, qualquer coisa é melhor que nada, como aconteceu nos últimos anos, anos de mais. Durante muito tempo, Évora esqueceu-se do que é, esqueceu e perdeu muito da sua identidade. Perdeu muitos anos de oportunidade. Vamos em frente e recuperemos o possível desse tempo perdido.

O governo local (Câmara Municipal), como entidade liderante, deve ser ambicioso, sair da Praça do Sertório e exigir que o próprio país assuma o património de Évora como seu e estrategicamente essencial, designadamente para a atividade turística. Portugal não pode prescindir de Évora patrimonial; Évora Património é, inequivocamente, um recurso nacional. Este estatuto adquire-se e conquista-se em Lisboa, junto do governo central, sem politiquices, com cabeças abertas, como os para-quedas para poderem voar, e bem cientes dos atuais tempos.

A sessão nos Paços do Concelho mostrou uma grande fragilidade, a sala estava a um terço. Isto é, atrevo-me a escrever que quase uma mão chegava para contar os que estavam para além dos obrigatórios – entidades oficiais e dirigentes da Câmara Municipal de Évora (CME). Na prática, os poucos eborenses que vão existindo (bem sei que nunca houve muitos) estão completamente afastados da cidade e do seu património. Muito provavelmente, esta é a maior fragilidade de Évora e da sua marca. Os portugueses em geral, e os eborenses em particular, não sabem, não querem saber e ninguém lhes exige que saibam que têm deveres. Um desses deveres chama-se participar e participar é estar presente e dar. Isto é, na prática e objetivamente, Évora será aquilo que todos fizermos, e cada um de nós tem o direito de exigir que cada parte faça o que deve. Não há volta a dar, é só isto.

Todavia, como é natural, uns têm mais deveres e responsabilidades que outros. À cabeça destes está a CME. A esta, exige-se “visão estratégica”, exigem-se rasgos “out of the box”. Évora Património é vulgar e muito pouco, não acrescenta nada, é óbvio e natural. Évora é muito mais do que o património que a UNESCO distingue. O conjunto de patrimónios de Évora e envolvente são invulgares, únicos e ricos. Sem grande esforço, lembro, desde logo, cultura, tradição, artes, gastronomia, religião (alguma cidade em Portugal tem a densidade de edifícios religiosos de Évora?), natureza, etc. Daqui se infere, obviamente, que a marca Évora não deve ser Évora Património mas antes Évora Patrimónios. Um passo em frente, sem custos e com grande valor acrescentado.

Do outro lado, o que não é bom, Évora é igualmente exemplar, um pacote de maus exemplos e de péssima governança que saltam à vista mesmo dos mais distraídos. Uma das notas estratégicas que o Presidente apontou respeita ao comércio no centro histórico, a aposta no comércio. Não será a altura para questionar que comércio? Vale a pena pegar num “bom” exemplo cuja propriedade e gestão são autárquicas: o mercado da Praça 1º de Maio. Desde logo, o comentário dos comerciantes ali instalados é inequívoco e claro: “o relacionamento com a Câmara é péssimo”. Como é possível, pergunto? O resto, o edifício, as suas funcionalidades, a sua gestão, etc., está à vista de um cego: vale a pena escrever? Aproveito para deixar uma última questão, independentemente de todas as razões técnicas que se possam evocar: para quando o fecho ao tráfego da via que passa mesmo em frente à igreja de S. Francisco, criando um espaço pedonal que integre as três estruturas, jardim/Palácio de D. Manuel-igreja- mercado?

 

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan