caminhos de Santiago a sul

É sempre bom aprender com quem vai à nossa frente. A Espanha promove-se muito bem do lado de cá como evidencia a Mostra Espanha 2015. Temos de aprender a gastar menos dinheiro na promoção de Portugal no estrangeiro.

O vasto programa da Mostra trouxe até Beja um fantástico colóquio sobre o Caminho de Santiago (CS). Atenção, não estamos a falar de “coisas de padres” nem de algo que fica muito longe, para lá do Minho, e que por isso não nos interessa. Como as organizações são as pessoas devo, antes de mais, enaltecer os homens e mulheres da Diocese de Beja e Câmara Municipal desta cidade que desenvolvem um trabalho que o país deve reconhecer quanto antes.

Muito mais que um produto religioso, o CS é um dos pilares mais estruturantes da Europa cultural e social em que nos inserimos. É por esta razão que milhares de quilómetros desta rota em Espanha são reconhecidos pela UNESCO. Deseja-se que em breve o caminho português também o possa ser, em Beja ouvi de responsáveis que o processo está em curso, todavia, sabemos o que isso pode significar em Portugal, anos e anos de enredo.

De Portugal, historicamente, há muitos caminhos que nos conduzem a Santiago de Compostela. Cada peregrino, ao longo dos séculos, saía de sua casa e fazia o seu caminho até Santiago. Os acidentes naturais, os rios, a distância mais curta, fizeram o resto e foram marcando as principais rotas que hoje conhecemos. Em Portugal, o caminho mais conhecido, dito Caminho Português, liga o Porto a Santiago. Existem vários guias e estudos sobre estas rotas de peregrinação, entre os quais destaco “A Caminho de Santiago – Roteiro do Peregrino de D. Lourenço de Almada”, o estudioso do caminho de Santiago (Ed. Lello, 2000).

E o que tem o “ribalentejo” a ver com isto? Beja acolheu o evento com todo o propósito, pois perdem-se nos tempos as rotas do sul até Santiago. Tomar é, obviamente, incontornável; Santarém é um nó essencial entre o sul e o norte da península – depois de Évora, seguia-se por Coruche até chegar a esta cidade. O próprio Tejo, via navegável noutros tempos, serviu para levar peregrinos de Lisboa para norte. E hoje? É tudo tão evidente e claro que dispensa argumentação. Neste, como noutros temas, urge passar ao fazer. Simplificar e passar à prática para que, o mais rapidamente possível, o sul em particular, e Portugal no geral, possam ter um “produto turístico de excelência” que promova riqueza nas terras despovoadas e pobres do interior. O contributo do CS para a sustentabilidade dos territórios que atravessa é muito significativo. Que a corrente de vontades, que se sentiu em Beja, se junte a quem já faz e sabe fazer (Diocese de Beja), que se constitua um modelo de governância e se caminhe rapidamente rumo a Santiago. Todas as nossas terras do interior têm muito a ganhar.

Ultreia (a palavra de saudação usada pelos peregrinos)

 

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan