Vivemos entre o que é bom e mau. Tudo tem um rótulo e fronteiras.
Não sei se um vagabundo é uma criatura boa ou má? Vagabundear é bom ou mau? Os dicionários não são muito abonatórios.
Recordo-me de os ver, de quando em vez, quase sempre como seres meio misteriosos. No mínimo sem sabermos de onde veem e para onde vão? Muito menos o que os trouxe até aqui e o que os leva daqui.
Há muito que não vejo um vagabundo, provavelmente é uma espécie em vias de extinção, contrariamente a outras, os gays por exemplo parece estarem em franca expansão e com um estatuto muito positivo. Na mesma altura em que via vagabundos os gays eram paneleiros (panleiros no Alentejo) e a coisa não era muito abonatória. Tudo muda.
Agora vejo muito mais pobreza e miséria, vejo pobres. Pobres de toda a espécie, muitos nos balcões das repartições onde vou e mesmo na universidade. Não sei se bem mas o meu imaginário não associa o vagabundo a pobreza e muito menos a miséria. Suspeito que vagabundear é um modo de vida que provavelmente conduz a liberdade e riqueza. Riqueza daquela que vale a pena.
Palpita-me que vagabundear é das melhores coisas que um homem pode fazer…
Como se adivinha, confesso que ultimamente tenho pensado em vagabundear.
Embora a minha memória não seja grande coisa lembro-me que quando puto, na vila onde vivi até aos 10 anos, nos arredores de Évora, havia a figura de maltês, uma espécie de vagabundo que passava de quando em vez e vendia o que o campo dava: vassouras, espargos, cardos, orégãos … Nunca se sabia quando passava, se voltava a passar, e muito menos para onde ia, onde dormia?
Vender todas as cangalhadas que tenho, por uma mochila às costas e partir sem destino, sem tempo, despido de mundo… No mínimo interrogo-me, como seria o meu “estado de alma” quando comparado com o de hoje? O que ganhava e perdia? Na verdade perdia este pc e a internet, simbolicamente estes dois valores podem representar as minhas perdas. Deixava de saber na hora que o Sócrates está em liberdade. No momento não dava muito jeito a opção de vagabundo, curiosamente, agora mesmo, lá fora está um temporal, aquilo a que chamo chuva abençoada em contraponto à dor de alma que me provoca o pensar nos muitos que não têm abrigo.
Como convém, o pensamento científico isso me ensinou durante décadas, mantenho algumas dúvidas mas, como vagabundo, tenho 99,9% de palpite que seria feliz e útil a mim e à humanidade.
Só me falta uma coisa: tomates.