Ronaldo tem uma nova namorada (alentejana)

Desculpem a “inovação” mas o conteúdo do texto não tem a ver com o título. Uma pequena “inovação” para trazer mais pessoas à leitura destas linhas.

Na verdade o assunto é a 5ª edição da CIEM ‘ 15 – empreender para vencer (www.empreend.pt) que por estes dias decorreu em Oeiras. O que ouvi foi muito para além das expetativas: bons estudos, bons exemplos e melhores ideias.

Sabendo, como se ouviu, que em Lisboa há mais de 100 incubadoras de empresas e outros tantos estabelecimentos de ensino superior, o baixo número de participantes é a nota mais negativa do evento. Este é o espelho do país que somos, isto é, uma vergonha. Provavelmente a razão é essencialmente cultural mas, nem assim, deixa de ser inaceitável. Certamente que a boa organização da CIEM terá também alguma responsabilidade.  Exemplos destes todos os dias ocorrem nas terras onde vivemos, boas e uteis iniciativas ficam para as moscas. Custa admiti-lo mas o português, é, por natureza, passivo e conformado; há sempre alguém (outro que não o próprio) responsável pelo problema (neste caso desemprego e pobreza) e por isso é a esse que compete trabalhar para a solução. Há sempre uma esperança que por de trás do nevoeiro alguém vai cuidar bem da coisa. Por esta altura a esperança chama-se “syriza português”, e mais não escrevo. (continua)

Em Oeiras ouvi alguns mestres, designadamente espanhóis, que disseram coisas muito simples mas que são o essencial: empreender é fazer; errar e fazer novamente até acertar. Nesta nossa boa terra lusa isto cheira a chinês. Gostamos muito mais do “dizer” e, a mais das vezes, por aí nos ficamos. Adoramos reuniões, longas reuniões inconclusivas; como bem me lembro, de num serviço da administração por onde passei, participar em reuniões de exaustivas horas, promovidas por uma responsável, que nada resolviam. Pergunto desde já: podemos ser ricos?

Um dos momentos altos em Oeiras foi ouvir o Miguel Pina Martins, um rapaz de trinta e picos anos, fundador e CEO da Sience4you (os brinquedos científicos que vimos por todo o lado). Há oito anos o Miguel fundou a empresa com mil Euros, hoje fatura 12 milhões e em dois anos quer atingir os vinte milhões. Sem power point o Miguel ensinou, muito claramente, a receita: paixão, trabalho árduo (erro), persistência. Para chegar ao sucesso é só isto. Quem quiser ter sucesso deve aplicar, mas atenção, há sempre um mas, dá trabalho. O Miguel tem uma opinião, que confessou, e que subscrevo na integra. É incomodo escreve-la mas o Miguel, e todos os outros trabalhadores deste país, merecem que o escreva: os portugueses não gostam de trabalhar. Os brandos costumes, tão próprios desta terra, apenas nos garantem pobreza e miséria. Obviamente que nada disto é por acaso e não somos piores que os outros. Por alguma razão o trabalho dos nossos emigrantes é apreciado. Tal como os nossos emigrantes os trabalhadores da Sience4you estão comprometidos e gostam de trabalhar.

Cada vez gosto mais da ideia que o país é aquilo que fazemos.

 

One thought on “Ronaldo tem uma nova namorada (alentejana)

  1. Existe palavras duras de se ouvir, mas que transcrevem a nossa realidade, onde nela me incluo.
    Deveremos fazer algo para mudar essa mentalidade e rumo das coisas.
    Se todos o fizermos, teremos um amanha mais perfeito.

    Parabéns Carlos, pela coragem de dizer o que muitos ignoram.
    Fernando Reis

Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan