de volta à escola

 

[“à beira mar plantados” enquadra um grupo de textos que mostram o piorzinho do que somos como povo]

O regresso à escola é muito mais que um desafio para crianças e jovens. O primeiro dia é sempre difícil para pais e filhos, mas este é só o primeiro dos muitos que se vão seguir. Levar as crianças à escola é, para muitos pais, a primeira grande prova do dia com todos os ingredientes para que, pelo menos, ocorra a primeira dose de stress. Este cocktail de horas e trânsito pode traduzir-se numa grande prova. Em todas as santas terrinhas a escola e a hora de entrada e saída da escola provocam os maiores picos de trafego. Nos meus percursos diários locais, também por esta razão presentemente feitos em bicicleta, tenho bem memorizadas as horas e as ruas a evitar; até mesmo com as duas rodas pedaladas não é fácil. No início do ano letivo, na fase de habituação, tudo isto é ainda mais verdade.

Até a nova hora do acordar e levantar carece de habituação, uma nova escola exige novos itinerários, isto é, o início das aulas é mesmo um desafio para toda a família. O assunto merece tanta atenção que a própria PSP faz uma campanha de “regresso as aulas” e a Direção-Geral do Consumidor disponibiliza alguma informação sobre o tema. Por outro lado, em época de tostões contados, não são de menor importância as questões que se prendem com a influência da escola dos filhos no orçamento familiar. A utilização de material, livros se possível, vestuário, etc., deixados por irmãos mais velhos é um ato de inteligência. Felizmente são cada vez mais comuns os bancos de troca e partilha de livros. Todavia, o mais importante é a alimentação. Perto de onde vivo há uma escola com um supermercado ao lado – não sei se é coincidência, mas este formato mágico repete-se em muitos lugares -, e naturalmente evito a zona nas horas de saída, almoço e intervalos grandes, mas quando isso não aconteceu e observei as porcarias que os jovens e crianças compram para se alimentarem, fiquei perplexo. Para terminar, volto ao tema de entrada, a deslocação para a escola. Não tenho dúvida que “a criança ir a pé para a escola” é o melhor indicador de sustentabilidade, isto é, de qualidade de vida de um lugar, de uma terra. Se pensarmos um pouco, este simples ato encerra tudo o que pode haver de bom numa terra, tratam-se de valias que são bens escassos e raros. Mas, para além da eventual hipótese de ir a pé para escola, o relevante é a criança ou o jovem ir para a escola em autonomia. Lembramo-nos que antigamente a exceção era quando assim não acontecia. Nalguns países mais inteligentes, e por isso mais ricos que o nosso, a primeira tarefa do ano lectivo da escola, pais e autoridades é ensinar os jovens a irem sozinhos para a escola, seja de transporte público, de bicicleta ou a pé. Dá que pensar quando nas nossas pequenas cidades, vilas ou mesmo aldeias, vemos o mar de automóveis, que só não entram na sala de aula porque não conseguem, à porta das escolas no largar e apanhar os estudantes.

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan