20 de julho de 2015

Há dias que fazem a vida. Horas em que o tempo para e nos prega grandes partidas. Tudo deixa de ter importância e tudo ganha relevância. Nada faz sentido mas tudo tem uma “razão”.

Bateste violentamente numa parede de betão.

Estás perdido?

Onde estás e para onde vais?

Estás no ocidente e vais para oriente?

Estou no escuro e vou para a luz?

Gritam-te: “acorda e mexe-te. Tu és mais, muito mais que tristeza, alegria, dor, dúvida, medo…”.

Estes são os dias em que não há bons ou maus, culpados ou virtuosos; estamos nus perante a força do incontornável. Culpados, tão pouco.

Nada de nada se parece ajustar ao que queremos, ao que desejamos (?), à verdade  ilusória em que nos arrastámos. Um rio vigoroso, com uma forte corrente de água, leva-nos para lugares impensáveis. Sítios desconhecidos, cenários improváveis, instáveis, movediços. Só um forte abanão nos pode levar até estes improváveis lugares que nos sussurram ao ouvido: “aprende e cresce”.

Fizemos escolhas cujas consequências nunca compreendemos até aqui chegar. Agora sim, quase tudo fica bem mais claro, óbvio. Como poderia ser diferente?

Está tudo à nossa frente mas falta quase tudo. Até do mau sentimos a falta. Com quem partilho as pequenas vitórias e derrotas do dia? Que enorme vazio! Agora sim compreendemos o espaço ocupado por quem aqui esteve tantos anos e já não está. Ou nunca esteve e parecia que sim?

Este é um universo de (aparentes) contradições. Esbarro, mais uma vez, no Desfado de Ana Moura, e que melhor mensagem para começar, “quer o destino que eu não creia no destino.”

O melhor é não ter ilusões e saber que um dia tudo muda e o que era já não é, “e o meu fado é nem ter fado nenhum.” Prosseguir sim, em cada momento como um todo, mas “não ter sentido algum.”

E no meio de tudo isto, entre a tristeza e a angustia, em que ficamos? Depende de haver mais ou menos sol? O melhor mesmo é esperar que um dia eu “não espere mais um dia por aquele que nunca vem…”

Ai que desgraça esta sorte que me assiste

Ai mas que sorte eu viver tão desgraçada

Na incerteza que nada mais certo existe

Além da grande certeza de não estar certa de nada.”

E mesmo sabendo que por de trás das espessas e negras nuvens que pairam sobre mim o sol está, como sempre brilhante, uma espécie de arrepio total invade o meu corpo e um estranho brilho nos olhos tolda-me tudo o que olho.

Por muito que te custe “a boca do pelicano abre-se para ti e fez-te chegar o dia que desejaste”.

Oh tempo vem depressa e apaga esta dor.

PS – já agora, porque vale sempre a pena, e é oportuno, como não ouvir Ana Moura? Acompanhe a letra:

 

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan