os governos falam, as cidades fazem

Os governos falam, as cidades atuam. Este é um dos bons ensinamentos que nos chegam de Copenhaga através de um excelente trabalho do jornal espanhol El País. Copenhaga é um exemplo vivo e prático de sustentabilidade. Um exemplo exportável que deve ser replicado e adaptado a cada uma das nossas terras. Esta adaptação está a ocorrer nalgumas outras cidades. Muitas, muitas vezes tenho usado esta coluna para exaltar o local e esquecer tudo o que está para além deste espaço e tempo. Chega de razões esfarrapadas para não fazer: o governo, o sermos pobres e eles (neste caso os dinamarqueses) serem ricos, etc. É curioso que também os dinamarqueses se queixam dos políticos e da partidocracia e afirmam com clareza: “não se trata só de uma aposta dos partidos, é uma exigência social. O que podemos esperar dos políticos? Todas as grandes mudanças vieram de baixo”. Seja como for, há um pacto de regime entre todos os atores políticos (da oposição ao governo local) até 2025 para levar por diante a “revolução verde”.

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Évora – feira de S. João

Tenho vergonha da barracada, a que chamam Feira de S. João, que todos os anos se monta no Rossio de S Brás.

A Feira deste ano este ano está diferente para melhor mas o essencial do inaceitável continua lá bem presente, designadamente os custos económicos, sociais, ambientais e patrimoniais desta Feira, no Rossio, nestes moldes. Como é possível uma cidade património da UNESCO, de apertadas regras para os seus moradores, cada vez mais escassos, tolerar uma agressão desta dimensão todos os anos?

Mas verdade é que Évora se pode orgulhar da feira deste ano. Está pensada, tem gosto e dignidade. À parte o essencial a Feira deste ano não envergonha, antes pelo contrário tem a qualidade que há muito não se via e vivia, exceptuando algumas patetices como o relvado.

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problemas

No meu, sempre que possível, circuito diário de corrida há alguns bebedouros. Regozijei-me quando recentemente dois funcionários autárquicos se encontravam a consertar num deles o entupimento do ralo que durante meses ou anos provocou a inundação do passeio. Como o local coincide com a inversão de sentido, o obrigatório abrandamento serviu para enaltecer a intervenção e para alertar para o baixo caudal do repuxo que compromete a função do referido ponto de água. Foi o suficiente para, em segundos, se manifestar ao vivo a característica nacional de dificultar o que é fácil e de procurar os problemas em vez da solução: “isso é outra coisa e agora não vai dar para arranjar porque…”. Desde já uma pergunta se impõe: quanto custa esta atitude a todos nós?

[este texto ilustra o verdadeiro “à beira mar plantados”]

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acampar – o retrato de um país estúpido

[fotografia de José Luis Diniz]

Acampar em Portugal, o país que aposta na economia verde, é o perfeito retrato de um país estúpido.

Campismo selvagem é um daqueles conceitos estúpidos próprios de um país como o nosso, que insiste em ser pobre de espírito, e de um povo inculto que aceita barbaridades como esta.

Por um lado, infelizmente muitos não dão por isso, vivemos num território paradisíaco, temos uma natureza singular, única, que nos rodeia por todos o lados. Do mar ao campo, com rios onde se pode nadar e pescar. Nadar e pescar num rio é um bem com valor incalculável e um privilégio cada vez mais raro no planeta Terra. Desde logo, porque na Terra a água é bem raro (propositadamente não escrevo recurso). Porque estas evidências entram pelos olhos, muito bem, o Governo apostou na Economia Verde e desenhou uma estratégia para o Crescimento Verde. Numa palavra, o objetivo é valorar o imenso capital natural de que dispomos. Ainda no sentido de enaltecer e valorizar o capital natural que temos, por iniciativa igualmente governamental, foi criada a marca Natural.pt (acedam em www.natural.pt). E por aí fora, pois os bons exemplos são bastante comuns também pela mão da iniciativa privada.

Todavia, se um cidadão português ou um daqueles turistas bons que vai além da fotografia na Torre de Belém, Portas do Sol ou Templo de Diana quiser viver e usufruir deste património natural e acampar nas margens de um qualquer idílico rio, não o pode fazer. Em Portugal é proibido acampar no campo. Isto mesmo, leram bem: a este ato chama-se campismo selvagem. Para acampar em Portugal somos, paradoxalmente, empurrados para infraestruturas, parques de campismo, que tendem a aproximar-se das cidades onde vivemos e onde nada falta: shopping, restaurante, piscina, todo o tipo de entretenimento, às vezes até um bom ginásio, relvados e canteiros com flores, etc. Acampamos normalmente em cima uns dos outros, felizes e contentes. Obviamente que a natureza de que tanto precisamos, e muitos procuram, ficam à porta dos ditos parques.

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adolescência

Um eminente antropólogo, filósofo, etc. catalão, monge em Montserrat, de que não gostei particularmente, disse em Lisboa que “somos uma sociedade de adolescentes”. A tendência é sermos adolescentes dos 12 anos até ao fim da vida. Nesta, pelo menos, o homem tem razão. Na verdade, andamos todos imbuídos de um verdadeiro espírito adolescente que se desresponsabiliza de quase tudo, como é próprio e aceitável nesta fase da vida, mas que pode ter consequências menos interessantes quando se generaliza por todas as idades e por todos, ou pelo menos, pela maioria.

Os resultados estão à vista e são inquestionáveis.

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan