zé da curva

Desde sempre todos aprendemos a associar Guimarães ao berço da nação, onde se lê, “aqui nasceu Portugal”. Mas Guimarães é muito mais do que isso. É muito mais do que uma bonita cidade bem conservada e vivida. Guimarães é um exemplo que bem podia contagiar todo o país com a sua alma: “aqui está a alma de Portugal”.

Seja na rua, no café ou num serviço, a simpatia e a disponibilidade são uma constante. Transparece uma enorme identidade e autoestima local. E a percepção evidente que se tem é de uma cidade e um centro histórico com muito menos edifícios devolutos em mau estado de conservação e com muito menos estabelecimentos comerciais fechados.

E para que não restem dúvidas, tudo isto se confirma e concretiza à mesa do almoço. Como muitas vezes acontece, à volta de uma mesa e de um copo de vinho tudo fica mais claro e fácil. Assim foi no Zé da Curva. Como em tudo o que é exclusivo e que vale a pena, não é fácil lá chegar. Como o próprio diz, “em qualquer canto há sempre um sitio onde se come bem”, assim é Portugal. Muito mais que isso, o Zé da Curva é um excelente exemplo e uma escola de tudo o que se disse em cima.

Mais tarde, questionada a labiríntica localização, “um canto improvável”, a resposta é bem clara: “é muito melhor aqui, tenho mais gente do que numa rua exposta.” Na verdade, como o Zé da Curva, Guimarães e Portugal são um “tesouro num canto”. Quem procura encontra. O empregado Abílio “é uma figura” e recebe como se nos conhecesse há 20 anos. Profissionalismo e atitude é coisa que não lhe falta. Dispõe bem qualquer um que ali chegue. Há como que um contágio de toda a família que por ali anda, a começar pela bébé Benedita. Como diz o Carlos, que serve à mesa e faz tudo o resto, “filho só da porta para fora”. Com naturalidade, a conversa estendeu-se à mesa ao lado onde a Mercedes comia tranquilamente com o seu pai, agora a viverem a terra depois de 30 anos em França.

Simpatia, intensidade e paixão confirmam-se em pleno. Facilmente se chega ao Vitória, o conhecido clube da terra que todos trazem no coração e que encarna tudo isto e muito mais e que leva o treinador forasteiro, Rui Vitória, a afirmar “nunca se viu coisa igual”.

Vem tudo isto a propósito do que, comparativamente é um défice das nossas terras de ribalentejo. Muitas vezes falta-nos atitude e disponibilidade para sermos mais bem sucedidos. Nada acontece por acaso e é tempo de termos a certeza que ninguém vem fazer por nós o que devemos e que este dever é totalmente independente da politiquice que sempre por aí anda.

Em poucas palavras, Guimarães é uma terra feliz. Se Portugal quer ser um país feliz, designadamente com sucesso no turismo, tem que seguir esta receita. Os ingredientes estão cá todos.

Comments are closed.

Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan