[ este texto é de Vanessa Scnhitzer, uma jovem talentosa Engª do Ambiente, que pensa alto. Tal como nos ensina J Tolentino Mendonça há que juntar saberes e sabores, os telhados verdes, para a imensa população urbana, são o juntar o campo à cidade ]
As cidades tornaram-se cinzentas, perderam a sua capacidade produtiva para serem predadoras, ávidas e egoístas, consumidoras de recursos, da biomassa produzida nas zonas rurais. A necessidade de recuperação de espaços verdes, que até aqui tinham sido “roubados” pelo crescimento das cidades, tornou-se uma imperiosa necessidade. É necessário incluir as cidades no ciclo de produção ecológica, tornando-as mais sustentáveis e sensíveis aos impactos que elas exercem sobre as paisagens que sustentam a vida humana: “a cidade invadiu o campo, agora chegou o tempo de o campo invadir a cidade.”
Sente-se a ânsia na criação de espaços idealizados como hortas, parques e jardins para inúmeros fins. É o caso da horta da tia Isabelinha, já aqui referido, que cuida das alfaces para lhe tirar as dores e maleitas trazidas pela idade já avançada. As hortas e jardins sempre foram um bálsamo para a alma!
Sendo os espaços verdes cada vez mais residuais na malha urbana, porque não utilizar o espaço “infinito” que as coberturas dos edifícios oferecem para aumentar a área verde uma cidade? Nasce assim o conceito do telhado verde, que procura dar vida aos telhados e contribuir de forma determinante para o equilíbrio do sistema urbano.
A proliferação deste conceito traduz-se numa grande expansão da área verde na malha urbana, com consequente impacto positivo nas condições ambientais, na qualidade da paisagem citadina, na qualidade de vida das populações e no desenvolvimento económico, nomeadamente no sector de produção de plantas.
A instalação de vegetação em coberturas e fachadas ocupa um dos mais inovadores e atuais campos da horticultura e das disciplinas que tratam da eficiência energética e o impacto ambiental dos edifícios (arquitetura, engenharia civil, etc.).
Hoje, os chamados green roofs (telhados verdes) são uma área de negócio em franca expansão, já representada por uma indústria poderosa e organizada. Por outro lado, o reconhecimento público das enormes vantagens – económicas, ambientais e sociais – deste tipo de instalação levou a que alguns governos já tenham estabelecido incentivos para promover a adopção deste tipo de solução construtiva. Como exemplos, refiro que cerca de 50% das cidades alemãs oferecem incentivos fiscais para a instalação de coberturas ajardinadas.
Portugal encontra-se cerca de 30 anos atrasado, em relação aos países do norte da Europa, na implementação de medidas que estimulem a adopção dos green roofs na construção/remodelação de edifícios. Só com o envolvimento, sem preconceitos, dos decisores políticos, bem como a sensibilização e formação das populações (em particular das novas gerações) será possível recuperar este atraso.
Se está ao nosso alcance, só nos resta fazer acontecer!
Vanessa Schnitzer