episódio de vida a correr

Apesar do défice de horas de sono, como sempre, acordei cedo e levantei-me pouco depois.

A primeira tarefa, escolhida por razões óbvias, foi escrever o texto semanal para publicação nos periódicos. O duplo prazer aconteceu ao escrever sobre corrida, concretamente sobre a fabulosa Sara Moreira. A motivação para o tema foi uma recente entrevista da Sara sobre o seu terceiro lugar na maratona de Nova Iorque – para quem não tem noção há uma palavra que pode sintetizar o feito: épico. Isto porque o que a Sara nos conta é uma lição para os desafios da nossa vida e pode sintetizar-se na sua frase: “sou ambiciosa e acredito sempre”. Em tempos de desafios permanentes é assim que temos de acordar todos os dias: fortes e determinados.

Como já estava previsto depois da escrita, por mera coincidência, o objetivo era calçar os ténis e fazer uma corrida – a verdadeira terapia preventiva antes de começar o dia.

Assim foi. Só que uma vez chegado ao local de automóvel, já equipado, a vista era magnífica, a música da Antena 2 adequada e, melhor de tudo, o sol começava a aquecer e o efeito de estufa dentro da viatura fez o resto.

Foi fácil ficar uns minutos a gozar o momento. O momento deixou de o ser, os minutos passaram, a vontade e determinação adormeceram e corpo ficou mole e sonolento. Com os minutos a passarem depressa este imprevisto quadro tomou conta da situação. A cabeça encontrou rapidamente um conjunto de boas justificações, tantas como as contradições: “há que saber ler os sinais do corpo e hoje não é dia para corridas”; “preguiçoso o que estás aqui a fazer? Vai lá para fora e faz o que deves.”

Depois de escrever a Sara esta foi uma profunda ironia. A vida prega-nos grandes partidas e é esse o grande desafio. Não sei ao certo mas terá passado quase uma hora entre o gesto de dar à chave e ir ao encontro do duche e o abrir a porta e treinar os músculos, a cabeça, e sobretudo a vida. Vida que temos de viver com paixão mas também com vontade.

Felizmente, por fim, a Sara empurrou-me para fora do carro. Corri o que tinha programado e fiz aquilo a que chamo um treino para a vida.

Bem hajas Sara!

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan