O caso do cemitério de Abrantes é excelente para retratar o país que somos e não devíamos ser. Desconheço totalmente o que terá levado os decisores da altura a “comprar” a inovação que está na origem do problema. Por todo a país há soluções deste tipo, que os nossos “amigos” parceiros nos impingiram, que não resolvem coisa nenhuma e que nos levam a gastar o dinheiro que nos faz falta para a saúde, educação, cultura, etc. São autoestradas que não levam ninguém para lado nenhum, são estações de tratamento de águas residuais com soluções que não funcionam, são piscinas que estão fechadas porque não há crianças, etc.
Alguma memória mostra-nos que histórias de cemitérios mal localizados são muito comuns em Portugal. E o plano B de Abrantes, ao retirar a argila e carregar solo não argiloso para as futuras campas está na mesma linha da “inovação dispendiosa” é inaceitável.
Como sabemos, a elaboração dos instrumentos de gestão do território arrasta-se durante anos e é feita a partir de potentes computadores em gabinetes sempre distantes da realidade. Os custos de um mau PDM são incalculáveis. Poupa-se (?) no planeamento e mais tarde paga-se muito mais pelos erros que se vão cometendo. O cemitério e tudo o resto localiza-se onde calha.
O mal não está no erro, pois qualquer bom gestor comete erros nas suas escolhas, o mal está nas causas do erro. Normalmente as causas assentam na incompetência impune, ou, pior ainda, no erro por segundas intenções a que se pode chamar corrupção.
Mesmo que se queira ignorar este tema ele é vertical em todo o país e prolifera em todos os níveis da tomada de decisão. É por esta razão que “o caso do cemitério de Abrantes” anda de mãos dadas com as filas nas urgências dos hospitais. A riqueza do país não é elástica e se o dinheiro de todos é mal gasto falta para o essencial. É por tudo isto que a demissão é, provavelmente, o principal problema de Portugal.
Cabe assim ao cidadão ativo, interessado, ao menos, tomar conhecimento do que está a ser feito na sua rua, na sua freguesia, vila ou cidade. A monitorização cidadã é o certificado de garantia para que o país onde vivemos se torne melhor e mais justo. Em vez de nos alhearmos do que se passa à nossa volta e criticarmos factos, há momentos certos, muito para além das eleições, que nos garantem a oportunidade de influenciar a decisão. Muito mais que um direito, temos o dever de zelar pelo bem público. Sobejam-nos exemplos em que o depositar de uma cruz num papel de quatro em quatro anos não chega. Antes que os cemitérios tomem conta de nós é melhor tomarmos conta deles.
Paz ao Senhor!