Incentivar a cultura do risco é um dos desafios que Portugal tem de enfrentar. Porque não já em 2015?
Portugal padece do mal da passividade. Ser cauteloso, passivo e demissionário é uma atitude premiada em Portugal.
Não existe a cultura do erro, e quem falha, é condenado.
Vivemos num país em que, o medo de errar está enraizado nos padrões comportamentais das pessoas.
Em geral, o risco anda arredado do nosso quotidiano; tudo nos convida a ficar quietos e esperar que algo aconteça. Curiosamente, muito recentemente, um conhecido futebolista dizia que: -“quem não sabe perder não sabe ganhar”. Viver é arriscar e o risco é inerente à condição humana. Um país só pode ser próspero se arriscar, sabendo que, o errar faz parte do processo de aprendizagem. Só quem erra tem sucesso.
O medo apocalíptico de falhar, pode levar o estado de procrastinação. Isto é, a um estado físico-químico-mental que se situa algures entre o deixar andar e o nada fazer. Ou seja, é a arte adiar o que temos para fazer, o eterno farei amanhã o que posso fazer hoje. Pior ainda é que muitos nem consciência têm dos seus deveres.
Este modelo de passividade e conformismo, em que descansamos, é a mais verdadeira falta de liberdade. A renúncia voluntária à liberdade dá corpo ao escravo moderno que não pensa, não emite opinião, não age e resigna-se a viver uma vida planificada por outros. Contrariamente aos trabalhadores das primeiras revoluções industriais, hoje deparamo-nos com uma sociedade totalmente escrava, que não vê ou não quer ver. “Que época terrível esta, onde idiotas conduzem cegos” (W. Shakespeare).
Em meados do passado mês de dezembro, decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian o 3º Fórum Anual de Graduados Portugueses no Estrangeiro “Portugueses sem Fronteiras: criatividade e inovação”. O objetivo fundamental foi promover a interação e discussão entre os graduados portugueses no estrangeiro e em Portugal.
Através da partilha da experiência e visões de um Portugal visto de fora, uma das ideias que ficou expressa, foi a de sermos um país que se esconde atrás das “muralhas do erro” e que vive o “marasmo da perfeição”. Muitos jovens tiveram de sair da sua própria terra, para que pudessem errar à vontade, seguir e trilhar um caminho de erros, fracassos e falhanços que lhes permitisse alcançar o sucesso, tão grande, que é impossível de caber nesta pequena terra da Lusitania.
Vale a pena lembrar, citando um dos livros sugeridos no Fórum, “In search of stupidity”, de Merrill R. (Rick) Chapman, que “o erro é uma oportunidade de começar de novo com mais inteligência”.
Carlos A Cupeto (com Vanessa Schnitzer)