namoro

“Pai, como namoravam sem telemóvel?”, pergunta ao pai o filho de 17 anos. Esta singela e surpreendente (?) interrogação marca uma fronteira entre dois ou mais mundos. Esta fronteira, com apenas alguns anos, é clara e não deixa ninguém indiferente. Hoje nenhum jovem, ou menos jovem, consegue imaginar a vida sem o on line na mão. A comunicação é no instante e, por essa razão, exige a resposta no mesmo lapso de tempo. Sabemos que estes tempos nos exigem o acesso a tudo e a todos à distância de um “click”. Todavia, o custo desta facilidade está por calcular.

Esta “rede global” é também termos as nossas quintas abandonadas e comprarmos limões do Chile a um euro, e ser mais barato viajar para Londres do que para o Porto.

Traduz-se esta facilidade, isto é, a rede global em que vivemos, em felicidade? Provavelmente não. É possível explicar aos jovens o encanto da paixão do namoro explanado numa carta que o carteiro entregava? Alguns de nós ainda nos lembramos da ida diária à caixa do correio gozando a expectativa de haver, ou não, a desejada carta.

E agora? Vivemos aceleradamente, muitas vezes sem sentir e sem tocar. Tudo passa tão rapidamente que um dia em que o telemóvel se esquece em casa ou que o servidor está off se traduz na desgraça do vazio impotente do “nada poder fazer”.

Estamos certos que o mundo não parou. E, por isso, este modo de vida, sentimo-lo, também ele, está em mudança. Outra certeza é que a mudança em curso é grande e fará fronteiras talvez mais marcantes que as anteriormente evocadas. Qual a pergunta que vão formular os filhos dos adolescentes de hoje?

Muitas vezes já aqui manifestámos a nossa profunda convicção de que a dimensão local vai voltar a ganhar peso. É inevitável que os limões voltem a ser os da nossa terra.

Alguém acredita na possibilidade duradoura e sustentável de uma economia assente em especulação bolsista? Um mundo onde há cerca de 800 milhões de pessoas com fome e mais de mil milhões sem água potável não tem futuro.

Há duas ou três semanas muitas regiões do EUA colapsaram pela onda de frio. A mais avançada tecnologia fica, com facilidade, refém de episódios naturais.

Estrategicamente, é de bom senso que os nossos ricos territórios, hoje despovoados, se vão preparando para uma nova realidade que vai chegar sem bater à porta. Os sinais podem ser ainda ténues, mas quem os quiser ver não terá dificuldade. Um pouco de bom senso basta para perceber que muitas das equações a que hoje nos habituámos não têm futuro.

Quanto vai valer um hectare de terra com um poço de água potável? Ou um rio com água limpa?

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan