Volto ao tema a propósito de uma sessão em Santarém sobre Crescimento Verde dedicada à agricultura e floresta. Se outra razão não houvesse, como foi lá afirmado por um dos oradores, somos um país rural. No âmbito da discussão pública, até meados de janeiro próximo, do “compromisso para o crescimento verde”, as associações do sector – CAP e CONFRAGI –, conjuntamente com o Ministério do Ambiente, promoveram um debate sobre o tema em causa e a agro-floresta.
Como sempre as oportunidades são equivalentes aos desafios/estrangulamentos.
Para que não restem dúvidas, escrevo novamente que sou um convicto entusiasta desta estratégia, a ponto de chegar a roçar a ideia de que não temos outra. Assim o queiramos.
Obviamente que a sessão de Santarém foi muita oportuna, os desafios globais e locais tocam-se, são incontornáveis e não nos dão margem para adiar. E, se por um lado, acreditamos fortemente no elevado potencial de Portugal para abraçar novos paradigmas, por outro, os constrangimentos estruturais do país são assustadores. A multiplicidade de planos, a política (ou falta dela) de ordenamento do território, os interesses corporativistas, a enviesada política de conservação da natureza e a burocracia, entre muitos outros tópicos, chegam para assustar qualquer optimista agricultor. Do outro lado, a Administração , sente, provavelmente, aquilo que é a obtusa postura do agricultor português, semelhante por toda a Europa: “a nossa atividade é verde por definição; daqui não arredamos pé e paguem-nos por isso”. Em boa verdade, por muito que custe à atividade económica agrícola, o que está em cima da mesa é muito mais que isso. Pense-se só um pouco na intensidade energética da agricultura e na água que o sector desperdiça para compreendermos que há efetivamente muito para fazer. Nem vale a pena falar nas alterações climáticas que nos vão cair em cima da cabeça, sem mais avisar.
Se pensarmos em temas como as agro-energias ou os agro-resíduos é fácil compreendermos o tamanho dos desafios que temos em mão, mas também as enormes oportunidades. Todos os atores e partes envolvidas têm o dever de fazer o que lhes compete. Todavia, todos o sabemos, muitas vezes o verdadeiro problema não está no topo dos ministérios e nas politicas vigentes, mas antes no dia a dia, isto é, no lidar com as centenas de serviços públicos que parecem existir para atrapalhar e complicar o que é simples.
Sobretudo, é importante que o vale do Tejo, o pinhal, o alto Tejo, as planícies do Alentejo etc. consigam tirar vastos benefícios desta política. Do lado da Administração é obrigatório que o documento agora em cima da mesa seja mais do que uma boa compilação de políticas sectoriais e um somatório de fundos que até aqui se esfumam sem cumprirem as boas causas para que foram desenhados.
Tenhamos esperança que assim seja.