regresso

joelho 2(escrevo estas passadas para os meus amigos com quem corro muitas ou poucas vezes)

Há muito tempo que este curto texto tinha o título anunciado: regresso. Só não sabia quando. A Grande Inteligência (ou Grande Arquiteto do Universo para os maçons) não me impediria de correr. Se assim fosse, que inteligência seria essa?

Para quem corre, bem ou mal, muito ou pouco, há 40 anos, estar seis meses sem o fazer parece uma eternidade. Depois desta experiência, não tenho dúvida que a mais autêntica eternidade é estar seis meses sem calçar os ténis para alargar o passo. Seis meses sem correr é bem pior do que muita coisa má que se possa imaginar. Não me atrevo a escrevê-lo para não chocar os mais descrentes.

Com uma paragem deste tipo, todas as nossas funções, físicas e emocionais ficam baralhadas. Dia após dia, sentimo-nos cada vez mais incomodados com a falta de qualquer coisa essencial. Sem nada poder fazer a não ser procurar o diagnóstico e os tratamentos certos. Isto, só isto, mesmo na capital, em 2014, pode parecer simples, mas não é. Uma dor no joelho mostrou-se de diagnóstico difcil. Infinitas opiniões, outras tantas experiências, semanas de tratamentos, três médicos, dois hospitais, uma clinica e euros demais; depois disto tudo, parece que, finalmente, há uma luz ao fundo do túnel.

Como sabem todos os corredores, o essencial está na cabeça. “Quase” todos os músculos, dores, etc. é aí que moram. Tudo se decide aí. Em dada altura a pergunta era: “e o treino que tens, o treino da cabeça (para gerir o esforço, a dor, o sacrifício e o prazer), serve-te agora de alguma coisa para ultrapassares este obstáculo de seis meses?”

Ao fim do terceiro médico surgiu a ilusão de, pelo menos, acreditar, e a motivação para escrever qualquer coisa para a série “emoções com ténis” (blog).

Para já, a operação está posta de lado e a ordem é para encetar umas passadas.

Como em tudo na vida, há um tempo em que o ciclo muda, as folhas caem e os frutos amadurecem, ou não estivéssemos nós no outono. Provavelmente o ciclo de meio ano – tanto tempo, quem diria? -, chegou ao fim.

Na verdade, não sei se a cabeça treinada ajudou. Sei, isso sim, que a corrida me ajuda a escrever melhor. Se me lerem a escrever melhor, é porque voltei a correr.

 

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan