Com os recursos locais seremos um país sustentável, líder no crescimento verde a nível global.
O desafio da sustentabilidade é grande, o foco está, sem dúvida, em dois temas fundamentais: carência alimentar e alterações climáticas. Algumas fontes científicas não hesitam em falar de “uma emergência planetária sem precedentes” ou na “6ª grande extinção no planeta Terra”.
Globalmente, tudo se resume à insustentabilidade do nosso modo de vida. E o mais grave de tudo é que não temos solo e recursos suficientes para alimentar a atual população da Terra, e muito menos vamos ter para os anunciados dez mil milhões dentro de poucos anos.
No que respeita às alterações climáticas, segundo a UE, calcula-se que as perdas ao nível da Europa possam ascender aos 190 mil milhões de euros anuais. Saúde, agricultura, litoral, incêndios, transportes, turismo, seca, inundações e energia são alguns dos temas a ter em atenção. Só ao nível da saúde, o número de mortes prematuras que se perspetivam leva a mais de metade das perdas anunciadas; na agricultura, as áreas de cultivo afetadas podem chegar a 700 000 km², cerca de duas vezes o tamanho da Alemanha. Juntar saúde e alimentos talvez seja suficiente para começar a ter consciência da gravidade da situação.
Ora acontece que tudo isto não é daqui a muitos, muitos anos, nem numa qualquer terra longínqua; é agora e aqui.
Como sabemos, uns mais que outros, esta insustentabilidade global está em causa e o mundo está em mudança. Mesmo que tardemos em ver, os recursos locais (água do rio, floresta, solo agrícola, etc.) vão inevitavelmente assumir o seu inestimável valor. Da mesma forma que o atual estado das coisas não ocorreu de um dia para o outro, o caminho inverso também vai levar algum tempo.
Enquanto isto, temos noção em Portugal de quanto vale ter um rio com água limpa à porta de casa? E quanto ganhamos em saúde (poupança em médicos) se regularmente dermos uns passeios com o cão nas margens desse rio, ou se nos entretivermos a pescar? Como estes, há infinitos serviços ambientais que os ecossistemas locais nos prestam sem lhe reconhecermos valor.
Portugal tem uma carência alimentar da ordem dos 37%, todavia, no outro prato da balança está tudo para que assim não seja. Temos recursos e conhecimento para sermos uma economia próspera com ética e valores. Temos uma geobiodiversidade única de grande valor e a opção dos negócios sustentáveis (economia verde) onde os ecossistemas e os seus serviços são avaliados e valorizados pode ser uma realidade.
Esta é a melhor opção estratégica de Portugal e traduz-se no mais verdadeiro negócio win-win.
A Estratégia Europeia para Biodiversidade 2020, num quadro inquestionável de alterações climáticas, assume ímpar importância, determinando a integração dos valores dos serviços dos ecossistemas na contabilidade e nos relatórios nacionais (ação 5).
É necessário que o país quantifique a sua biodiversidade e inclua esse valor nas contas gerais do país. É urgente que o país dê passos simples, necessários e oportunos na consubstanciação de uma economia (verde) assente nos recursos locais, um verdadeiro up local.
A utilização do espaço natural deve ser um privilégio de todos. Somos um país naturalmente riquíssimo e temos que tirar partido dessa riqueza, com inteligência e quanto antes.
A valorização monetária dos serviços dos ecossistemas ajuda a tornar as externalidades ambientais visíveis, ou seja, em valorizar os custos da perda de ecossistemas, de áreas de recreio, de alteração da paisagem decorrentes de um desenvolvimento ignorante e insustentável.
O que podemos fazer?
Está quase tudo para fazer, designadamente, desenvolver um Sistema de Informação Balanced Scorecard da Economia Verde em Portugal e promover a valoração dos serviços dos ecossistemas, desenvolvendo a metodologia de contabilização para empresas públicas e espaços naturais.
E, por fim, a grande questão: agimos em tempo, com enormes vantagens, ou esperamos até esta opção ser inevitável?