Como facilmente se previa a galinha dos ovos de ouro rebentou. A exploração selvagem do turismo de massas acabou com Veneza. Conforme se lê no El Pais “a alma de Veneza perdeu-se e converteu-se num parque temático tipo Disneylandia onde chineses vendem a outros chineses por 1 € máscaras venezianas fabricadas na China”.
Os poucos venezianos que restam estão saturados e desiludidos; um exército de 24 milhões de turistas por ano torna a cidade dos sonhos românticos num inferno. Os voos baratos e os cruzeiros levaram à extinção da cidade e as autoridades italianas não sabem o que fazer.
Muitas vezes aqui temos escrito sobre o valor turístico de Portugal. Esta realidade de Veneza vem evidenciar, mesmo para os mais descrentes, uma oportunidade única: Portugal como destino de excelência. Um país rico em patrimónios com uma alma que se mantém é o nosso grande tesouro. Será que sabemos promover e gerir este tesouro? Temos noção do que temos em mão? Quanto pode valer uma semana no Tejo? Sabemos que por o pé numa gôndola, depois de uma longa espera numa infinita fila, vale, no geral, 80 €. Na passada primavera um grupo de amigos por uma caminhada à beira Tejo, uma descida no rio em canoa e um magnífico almoço típico à beira-rio pagou 22 €/pessoa. Nesse mesmo dia vimos dezenas de canoas no Tejo; segundo nos disseram em Constância estavam cerca de 300 canoas na água. Muito provavelmente estes números têm uma significativa importância na economia local. Todavia é necessário que esta atividade necessite de regulação inteligente, antes que algo possa acontecer, designadamente o conflito com outras utilizações. No país do “faz de conta” vamos esperar que a notícia da desgraça aconteça para depois agir, tarde, a más horas e, muito provavelmente, mal. Os mais pequenos pormenores mostram que efetivamente tudo acontece ao acaso, sem estratégia e sem gestão. Tão pouco sem articulação entre partes e interesses. Um destino como o Tejo exige anos de trabalho estratégico que não se compadece de amadorismo avulso e voluntarioso. Será que o interessante projeto Viver o Tejo, em que a NERSANT tanto aposta, desempenha este papel de articulação e desenvolvimento turístico estratégico que a região tanto necessita? Ou, pelo contrário, não passa de uma sucessão de programas aprovados que vão sustentando um portal e organizando uns eventos?
Muito recentemente o Ministério do Ambiente lançou a marca Natural.pt. Uma excelente ideia mas que pode não passar disso mesmo, como tantas vezes acontece.
É urgente que o país quantifique a sua biodiversidade e inclua esse valor nas contas gerais do país. É urgente que o país dê passos simples, necessários e oportunos na consubstanciação da política e conceito Natural.pt.
A utilização do espaço natural deve ser um privilégio de todos. Devemos banir rapidamente a pratica do “natural proibido” e adoptar, inequivocamente, a natureza viva e vivida. Rios onde se possa nadar e pescar, serras onde se passeie e descanse, florestas onde se ande bicicleta e acampe.
Somos um país naturalmente riquíssimo e temos que tirar partido dessa riqueza, com inteligência e quanto antes.