correr

fotografia de Tó Zé Tavares

fotografia de Tó Zé Tavares

Quem calça uns ténis para correr, irá compreender o que vou escrever, os restantes experimentem porque nunca é tarde e vale a pena. Se tivesse alguma dúvida, há dias, ouvi da Sonja (mestre de pilates e da vida) dizer que o movimento mais arriscado e perigoso é estar parado.

Em menino, lembro-me de correr pela rua fora com um sorriso na cara atrás de uma roda com uma gancheta (os mais novos perguntem aos mais antigos o que é este brinquedo).

Alegria é voltar a correr depois de uns meses parado por motivo de lesão, podes confirmar Mª João?

Sem saber bem porquê, desde a fabulosa S Silvestre da Amadora, que não corro numa prova. Dentro de dois ou três dias volto a fazê-lo pela mão do Júlio. A corrida e o Júlio confundem-se e, talvez por isso, este amigo dos quilómetros, das tertúlias, de tudo, e, quiçá, da longínqua nossa Évora, percebeu que este atleta necessitava dum empurrão e vai levar-me a St. André. Disse-me ele que vamos só 16, à volta do Júlio é assim.

A corrida, mais do que muitas coisas na vida é: antes, durante e depois. Antes é isto, a preparação. Hoje, estão trinta e muitos graus mas o último treino é incontornável, sábado St. André não vão estar menos. O durante, como nas grandes competições com atletas a sério, só Deus sabe, é quase imprevisível. Até uma meia mal calçada pode estragar a festa. O depois é seguro, as mazelas do pós, mas, quase sempre, a grande satisfação de ter corrido ao lado de muitos iguais e de ter lido meta.

Quase tudo conta, como as meias, mas, como sempre, tudo está na cabeça. É aqui que tudo se decide, a cabeça manda. Talvez por isto, correr é quase sempre, no mínimo, uma meditação. Há quem diga que correr é orar. Talvez o Sr. padre da terra saiba explicar. Também não temos de compreender tudo. Na verdade, só isto chega, correr é uma lufada de ar fresco para o corpo (que não pode estar parado) e para a mente que não tem vazios, e como tal, há que a ocupar com coisas boas.

A receita é correr, pensar e respirar. Muitas vezes, o “sofrimento” é tanto, que chega o vazio e ficamo-nos pelo respirar e correr, deixamos de pensar; talvez isto seja o melhor da corrida, passarem os quilómetros sem darmos por eles: onde andaremos?

Outra parcela, não menos importante: somos parecidos com os atletas, temos dias. Incontornável é o antes, os quilómetros nas pernas feitos nos treinos. Aqui, ou temos ou não temos quilómetros feitos, e nem a cabeça faz milagres.

Milagre é poder correr, até que a saúde deixe, forever.

Nota: Muito agradeço aos magníficos atletas do CCD da CM de Cascais que me levaram a St. André num excelente ambiente de camaradagem e amizade.

Comments are closed.

Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan