No meio do ridículo do “dia internacional de qualquer coisa” muitos demos conta, recentemente, do dia internacional sem sacos de plástico. Na verdade vivemos num planeta de sacos de plástico e quase que podemos eleger o saco de plástico como uma marca civilizacional. Este é um fenómeno recente e em poucos anos a situação tornou-se grave.
A análise microscópia de uma areia de praia assusta qualquer comum mortal, a maioria dos “grãos” não são minerais mas antes micropartículas de lixo de plástico. Assustador. Cada europeu utiliza cerca de 500 sacos plástico por ano, que vão, na melhor das hipóteses, para o lixo após uma única utilização. Em alternativa são libertados no meio, e, mais dia menos dia estão num qualquer oceano. Por isso cerca de 80% dos graves problemas da poluição marinha são devidos aos sacos de plástico que muitas vezes saõ confundidos com alimento e provocam a morte a muitos animais.
Pelo facto dos sacos serem oferecidos, os consumidores têm a tendência a não lhe atribuir qualquer valor e por isso não os reutilizam ou reciclam. Enquanto isto a União Europeia estuda o assunto, através de um inquérito, e aponta para regulamentação. A tal legislação que, a mais das vezes, nada resolve.
Trata-se efetivamente de um grave problema que só tem duas vias de solução: a consciência dos cidadãos e as regras ou a estrutura do mercado. Há não muitos anos a maioria dos cidadãos ia ao pão à padaria e utilizava um saco de pano. Hoje, no supermercado, o pão está embalado em plástico e depois vem para casa noutro saco de plástico. Como sempre é começam a surgir alguns bons exemplos, designadamente padarias onde o pão é mais barato se o cliente levar um saco de pano.
Durante anos tudo contribuiu para que assim não fosse e as pessoas foram empurradas para um consumismo global sem nexo. Sem alternativa, paralelamente ao aumento do nível de consciência coletivo, vamos ser forçados a arrepiar caminho e a dimensão local vai ganhar posição. Cada vez mais, mais pessoas, vão compreender o imenso valor de sair de manhã de casa e ir à padaria comprar pão fresco para toda a família e ainda poder cumprimentar e dar dois dedos de conversa com os vizinhos. Para que isto seja possível é necessário que o local ganhe vida, nomeadamente possibilidade emprego.
Não é sustentável, nem bom para a qualidade de vida de cada um, e bem-estar coletivo, que se andem muitos quilómetros no trajeto casa trabalho ou que se leve muito tempo, como é o caso dos meios urbanos de maior dimensão. O fenómeno “saco de plástico” não aconteceu por acaso e não vai esbater-se pelo aparecimento de legislação. O modo de vida que construímos, e aceitamos, é o responsável por este e muitos outros males que caraterizam o nosso quotidiano. Imagine-se o que poderia melhorar a vida de uma pessoa que evitasse duas horas diárias de transportes ou 50 ou mais quilómetros para chegar ao trabalho e voltar para casa?
O bem que poderia fazer a si e a outros com mais duas horas livres por dia e com mais Euros. É incontornável, todos os caminhos apontam para “viva a minha terra, a melhor do mundo”.