Depois do escrito da semana passada sobre os equívocos da gestão da biodiversidade em Portugal, é a vez da causa de todas as coisas, a geodiversidade. Geodiversidade é o fundamento e a compreensão do que é o território onde vivemos. É muito mais que as Portas do Rodão ou os dinossauros em Torres Vedras-Lourinhã. Em Portugal, a geodiversidade, o essencial, ignora-se, desconhece-se e por isso paga-se caro, em vez de ser usufruída como uma enorme mais valia. Como em tudo, há, obviamente honrosas exceções: Idanha-a-Nova (Naturtejo) e Arouca, com os seus Geoparques, são dois bons exemplos de quem bem gere e tira partido deste imenso património. Bem mais do que ler a história da Terra nas rochas, a geodiversidade explica e fundamenta o país que somos, provavelmente até do ponto de vista social e, obviamente, económico. Para que não restem dúvidas é a geologia que justifica a beleza e diversidade paisagística de Portugal.
Não é por acaso que os nossos principais rios cortam o território transversalmente e que ocorrências atuais, por exemplo ao nível da dinâmica litoral, onde derretemos milhões de euros, só se compreendem pela análise e fundamento geológico. A própria biodiversidade, nas suas mais variadas dimensões, só é verdadeiramente compreendida se olharmos para o substrato: rocha-solo. Desde logo, porque este vai condicionar a disponibilidade de água. Todavia, em Portugal ignora-se totalmente a base e conhecimento geológico. Questões importantes como a aptidão e conflitos a nível do ordenamento do território, riscos naturais, gestão de recursos e planeamento estratégico são tratadas – quando são –, sem a abordagem da causa, a geologia. Obviamente que esta absurda ignorância do conhecimento geológico traz custos incalculáveis. É comum o Plano Diretor Municipal (PDM) e outros instrumentos de ordenamento esquecerem, a mais das vezes por ignorância, provavelmente o mais valioso e significativo dos recursos do seu território: os recursos geológicos. Felizmente, os recursos geológicos devem a sua localização a fatores exclusivamente geológicos e estão onde estão; só aí podem ser explorados. Quantas terras há onde as pequenas pedreiras de granito ou calcário são o único pequeno oásis de riqueza? Quantas terras devem a sua existência a uma jazida mineral que justificou a fixação de pessoas? Como sabemos, a expansão e fixação dos povos nossos antepassados é explicada e compreendida pela constante necessidade da procura de recursos e matérias-primas minerais. O próprio sector do turismo de saúde e bem-estar tem a justificação nos recursos minero-termais, também eles, desde há milhares de anos, presentes no quotidiano das populações. Posto isto, é tempo de também nesta matéria o país bem gerir a sua extraordinária geodiversidade. E por último, tem de ser possível, fácil e inteligente a exploração de georrecursos onde eles ocorrem, inclusive numa área protegida. Estamos todos de acordo, incluindo o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas?