No dia 23 de abril o jornal Público anunciava que “os turistas estrangeiros que escolhem Portugal como destino vão ser surpreendidos por agentes da PSP numa iniciativa informativa invulgar. À sua chegada, os polícias farão questão de os avisarem de que a segurança interna poderá estar em causa com as medidas do Governo com que estão a ser afetados… os “milhares” de panfletos serão entregues em todos os aeroportos do continente e ilhas.”
Quando o turista põe o pé em Portugal os polícias dizem-lhe: “atenção veio para o país errado”.
Será que os nossos vizinhos espanhóis estão devidamente informados quando vierem ver os seus clubes jogarem a final da Champions?
Esta “iniciativa informativa” cheira – me a terrorismo e convida-me a recuar 40 anos, para 23 de abril de 1974. Recorro-me das “amplas liberdades democráticas” para tentar compreender esta forma de comunicação, mas, mesmo assim, é difícil considerar esta forma de “luta contra o governo” aceitável.
Imaginem-se os médicos a anunciarem que este é um país de doentes e os professores a dizerem que Portugal é um país de analfabetos, porque não gostam do governo e ainda menos da troika.
Chegámos pois ao ponto do “vale tudo”. O regime democrático dá-nos tudo para que possamos defender os nossos direitos e, rapidamente, esquecemos os deveres de respeito pelos outros, pelo coletivo e por nós próprios. Sim, porque o que o sindicato está a fazer com esta atitude é a desrespeitar a própria classe dos polícias.
Em 40 anos parece que pouco ou nada progredimos no respeito pelos mais elementares valores da vida em comunidade. Qualquer absurdo, como este, nos pode sair ao caminho e nada acontece. Isto é, parece que é normal que os polícias manifestem a sua zanga com o governo desta forma.
A partir desde exemplo podemos questionar quase tudo.
Designadamente, quais as regras de conduta coletiva que nos regem? Ou qual o preço de vivermos neste regime aberto e permissivo?
Se os polícias não cumprem a sua missão de zelar pela segurança do país, para que servem?
Todavia, o que mais nos espanta é que este acontecimento seja possível impunemente. Se um qualquer cidadão se sentir inseguro e questionar o presidente do sindicato dos polícias sobre o que deverá fazer, qual será a resposta expectável? Que resposta poderá ouvir?
O melhor mesmo é esquecer e ir em frente, talvez num salve-se quem puder, até porque daqui a um mês a nossa seleção está a jogar a Copa e vamos ter com que nos distrair.
Entretanto, ao lado, há um país empreendedor que luta contra tudo e todos na tentativa de criar a riqueza de que tanto necessitamos.
Por último, fica a interrogação mais global e preocupante: como saímos deste beco?
Provavelmente, só com o povo mais culto. E o povo está interessado nesse passo? Às vezes parece que não. E será que temos tempo para esperar por esta evolução?
No DN, hoje, a 21 de maio, Ferreira Fernandes escreve sobre o mesmo tema:
http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=3924821
Concordo. Temos de alargar a nossa visão e os valores éticos têm de acompanhar esta nova dimensão, esta comunidade alargada, que integra não só a minha classe mas todos os indivíduos. Outras formas de resolução dos problemas terão de surgir.