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Como se sente por todos os lados, o turismo está em alta em Portugal.

Lamento, mas não sou tão optimista. Acredito muito que os positivos resultados no sector do turismo em Portugal se devem essencialmente ao efeito da dinâmica internacional do sector e não ao mérito próprio.

A Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL) mostrou isso. A análise tem que ir muito para além do número de expositores ou visitantes e concluir que a BTL deste ano foi a melhor de sempre. O que significa essa conclusão?

 

Abrantes vai ter mais e melhores turistas por ter estado na BTL?

Algum português decide trocar o Algarve pelo Tejo pela exposição que os produtos turísticos do Tejo tiveram na BTL?

E o mais ridículo é a prova de iguarias gastronómicas e bons vinhos em todas as regiões representadas. Não consigo compreender o que se pretende com este tipo de iniciativas. Será cativar turistas? Evidenciar que os vinhos do Douro são uma dádiva dos céus e que os do Tejo estão cada vez melhores?

E o vale do Tejo, em grande parte associado ao Alentejo, o que ganha na BTL?

Na verdade temos muita curiosidade em saber o que beneficiam uma cidade ou uma região por estar na BTL? Alguém necessita da BTL para ficar a saber que o produto turístico da Golegã é o cavalo? Por estar presente na BTL a Golegã vai receber mais turistas? Em que se traduz este tipo de presenças? Destina-se essencialmente ao mercado nacional ou internacional?

O discurso do secretário de Estado do Turismo foi rigorosamente igual a qualquer um dos PALOP que estiveram representados ao mais alto nível: tudo assenta no milagre da simplificação e celeridade dos processos de licenciamento, isto é, a diminuição do risco. Salvo o destaque de Angola, que mostrou ter um plano estratégico que norteia a sua atuação, pelo que ouvimos ficámos a saber que Portugal, nesta matéria, está ao nível de S. Tomé e Príncipe, Cabo Verde ou Timor. Sem desprimor para estes países, parece-nos pouco.

Acreditamos que as “pequenas” iniciativas locais, promovidas pelos atores locais – por exemplo o Viver o Tejo, implementado pela NERSANT –, têm um efeito positivo imensamente superior a quatro dias de feira.

Na verdade, à margem do bonito discurso do governante português, lido com fraca convicção, assente na básica equação que pondera a receita, custos e risco, que nada de novo ou estratégico traz, têm muito mais valor turístico as imensas iniciativas que os atores locais asseguram por todo o país.

Da BTL trouxe um saco bem pesado de informação, que por uma razão ou outra me interessa, sabendo que todos estes papéis –muitos de gosto, estilo e qualidade muito duvidosos –, estão disponíveis aqui mesmo, neste pc, graças a um simples clic. Talvez valha a pena pensar o modelo e a estratégia, não só do turismo, mas também da feira.

Acabo a perguntar a mim próprio: o que fui fazer à BTL, para além de provar bons vinhos e petiscos?

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Adaptado de Esquire, de Matthew Buchanan